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Monuments + Scar of The Sun ::: 15/06/19 ::: The House / SP
Postado em 25 de junho de 2019 @ 14:49


Texto por: Vagner Mastropaulo

Fotos: Rogério Talarico 

Exemplos de competência, camaradagem, simpatia e humildade

 Seis dias após a estréia do Periphery em São Paulo, o Monuments, outro nome de peso da safra djent misturada a outros estilos do metal, também desembarcou por aqui pela primeira vez e, de quebra, ainda trouxe o Scar Of The Sun para fazer o début no país, atenienses como o Rotting Christ, que passara pela mesma The House havia duas semanas. E as coincidências não pararam por aí, pois: o vocalista do conjunto inglês cantou no Periphery entre 2008 e 2010 e gravou Periphery (2010), sendo responsável pela maioria das letras; as duas bandas tocaram conjuntamente neste mesmo giro latino-americano na Cidade do México (02/06), em Bogotá (04/06, como parte do Djent Fest) e em Santiago (07/06); e, por fim, se Spencer Sotelo não estava em sua plenitude física no Carioca Club, vítima de intoxicação alimentar, quis o destino que Chris Barretto também cantasse debilitado… mas tudo em seu tempo e que se ordenem os fatos.

Às 19:55, cinco minutos antes do horário previsto, Terry Nikas (vocal), Greg Eleftheriou e Alexi Charalampous (guitarras – 7 cordas), Panagiotis Gatsopoulos (baixo – 5 cordas) e Thanos Pappas (bateria) já estavam no palco abrindo a noite com Among Waters And Giants (com a intro do álbum que não consta no clipe) e, ao seu final, o vocalista deu um boa noite geral e pediu por mãos levantadas antes de An Ill-Fated Wonder, com riffs mais intrincados. Ao cravar a terceira consecutiva do mesmo play, Terry dirigiu-se ao razoável público presente e, em vez de informar, confundiu: “Muito obrigado! Boa noite, São Paulo! Somos o Scar Of The Sun, de Atenas, Grécia. Esta é nossa primeira vez em seu lindo país e estamos felizes pra cacete por isso. Começamos com duas canções de nosso primeiro álbum e agora faremos outra dele. Esta é Versus The World”, ainda mais melódica do que a anterior, puxada por Alexi, mas com o som de sua guitarra um pouco baixo. Só que as três não eram de A Series Of Unfortunate Concurrencies (2011) e sim de In Flood (2016), segundo e mais recente álbum do grupo.

É possível que, no calor do momento, Terry tenha apenas se atrapalhado, mas é certeza que disse ‘first album’ e não ‘second’ ou ‘latest’, até porque, na interação seguinte, trocou formas estruturais em inglês perguntando: “Vocês se divertem esta noite?” e não “Vocês estão se divertindo esta noite?”, deslize evidentemente perdoado e que em nada afetou a resposta positiva da platéia. Então complementou: “É isso aí! Vamos voltar ao nosso primeiro álbum com uma música chamada Disciple Of The Sun”, esta sim de seu citado primeiro registro de estúdio. O mais importante era que banda e fãs se entendiam e a atmosfera era mais do que favorável, mesmo com o vocal engolido pelos outros instrumentos. Então o cantor revelou: “Tudo certo, galera? Temos um novo álbum que ainda não saiu. Ele deverá sair ainda em 2019 e vamos tocar algumas dele para vocês aqui hoje à noite. Esta é Transition To Turbulance”, com riffs matadores, curiosamente grafada como TTT no setlist de palco, imediatamente acima de Sand, não numerada, entre parênteses, marcada com uma interrogação e não tocada.

I Am The Circle, outra inédita, viria a seguir e então o frontman mostrou sensibilidade: “Galera, quando pousamos aqui uns dias atrás, recebemos notícias muito tristes. Tenho certeza que já sabem a respeito. Ouvimos sobre a morte de um grande cantor que crescemos escutando. Estamos falando de um cara do país de vocês, de André Matos. Ouçam, o fato de sermos do outro lado do globo não significa que não conhecíamos o André Matos. Então queremos dedicar nosso show de hoje à noite à memória deste excelente cantor. Muito obrigado por terem vindo hoje. Realmente esperamos que se divirtam, pois é muito importante para nós tocar no país de vocês. É uma grande honra para nós. Agora seguimos em frente com uma canção de nosso mais recente álbum, chamado In Flood. Esta é uma que fala sobre vingança: The Truth About The Lies”. Mais cantada do que feita com gutural, foi uma grata surpresa e não seria exagero afirmar que, ao vivo, sua semelhança com The Pretender (Foo Fighters) intensificou-se.

Caminhando para o final do show, Terry fez uma convocação: “Para esta música, trouxemos de nosso país, a Grécia, um grande amigo nosso, cantor de uma grande banda chamada Daylight Misery, nosso amigo Vassilis Mazaris, para vir ao palco e cantar conosco. Esta é Ode To A Failure”, com teclados em playback que lembraram Rammstein. Na maior humildade, Vassilis havia passado boa parte do show fazendo a venda do merchandising e chegou ao palco empolgado, com volume perfeito de seu microfone, fazendo os vocais principais, bebendo Cacildis e vestindo camiseta de sua banda. Despedindo-se, clamou por barulho e Terry agradeceu por sua participação também pedindo barulho, mas para seu amigo, e anunciou Inertia, a bem trabalhada faixa-título do futuro lançamento do conjunto, verdadeira pancadaria a partir da caixa de Thanos que agitou a massa e finalmente abriu a primeira roda da noite, bem na frente da pista. Grato ao redestacar a honra em tocar por aqui, o vocalista enfatizou que gostaria de voltar ao país para tocar em mais cidades. Finalmente, destacou que Anatasis, também integrante de Inertia, era a saideira.

Visualmente, o uniforme adotado pelo grupo, que parecia ser preto com detalhes dourados, trouxe unidade e identificação, mas cada membro tinha design próprio com características específicas, diferenciando as cinco peças. Em breve conversa com Greg pelo Facebook, o guitarrista esclareceu: “Na verdade, o uniforme é verde escuro com marrom, preto e dourado” e a confusão das cores se deu pelo efeito da iluminação. Cordial, ele continuou: “Ele é um conjunto de design customizado que Achilleas Gatsopoulos, irmão de Panagiotis, projetou para a banda. Ele é o cara que cria toda a parte visual para nós, da parte artística dos álbuns ao bandeirão e banners laterais de palco. Ele é um grande artista”. E tamanho cuidado foi musicalmente reforçado pelo fato de o foco sonoro residir na coesão, ainda mais em espaço reduzido, sem evidenciar algum dos músicos. Ouvi-los e vê-los in loco trouxe a constatação de que as influências doom metal de Paradise Lost, especialmente nos vocais, permaneciam, porém diluídas em comparação ao que se escuta em estúdio. Na maior calma, o último pedido de Terry foi pela foto com os fãs antes de simpaticamente agradecer ao Monuments pelo convite para a turnê e fechar o set em pouco mais de cinqüenta minutos. E nada de ficarem escondidos no camarim, pois feitas as desmontagens e remontagens de equipamentos na maior camaradagem, os gregos posicionaram-se no merchan para prestigiar a apresentação do grupo oriundo de Milton Keynes, tranqüilamente atendendo aos pedidos de fotos.

Após mais ou menos vinte e cinco minutos de intervalo e promovendo Phronesis (“Sabedoria” no grego antigo), lançado em outubro último, Chris Barretto (vocal), John Browne e Olly Steele (guitarras – 7 cordas), Adam Swan (baixo – 5 cordas) e Daniel “Lango” Lang (bateria) vieram ao palco às 21:10 mandando ver com sua mistura de djent com metal progressivo e metalcore. E se o público permanecia apenas mediano em número (abaixo do esperado se comparado à adesão maciça ao Periphery), autênticos fãs-raiz ensandecidos compensavam representando e fazendo muito barulho. Verdadeiro martelar na moleira, A.W.O.L. (sigla para “Absent Without Leave”) abriu não somente os trabalhos do Monuments, mas também uma insana roda logo de imediato com a galera cantando alto. Ao seu término, Chris jogou limpo: “Boa noite, São Paulo! Estou bem fodido então vou precisar de muita ajuda de todos vocês esta noite, se não se importarem”, mal tendo tempo de se explicar enquanto seus companheiros já emendavam I, The Creator, primeira de The Amanuensis (2014) no set e que seguiu agitando os fãs, pulando e cantando.

Apenas com um bandeirão e um vistoso “M” atrás de Daniel, o que mais saltava aos olhos era a perfomance de Olly, não somente tecnicamente, mas por tocar sorrindo e fazer movimentos com o tronco deixando sua guitarra cair e apanhando-a feito uma marionete controlada por alguém no teto da casa. Impressionante o chacoalhar do cara! Sem mais delongas, o frontman pediu para que seus “amigos” agitassem ainda mais na pista e anunciou Leviathan, sensacional ao vivo! Sem dar a menor chance de respiro, ouviu-se apenas seu “Obrigado”, e já iniciaram Stygian Blue, mantendo em alta o nível de insanidade. E antes de Mirror Image, terceira seguida de Phronesis, só houve tempo para novo agradecimento do vocalista, em clara estratégia de não deixar a peteca cair e passar o menor tempo possível no palco, evitando expor-se além do necessário, uma vez que seu desgaste era evidente ao tossir e tentar se recompor bebendo algo que parecia chá quente e borrifar dois sprays diferentes na garganta.

O cenário era tão preocupante que, sentindo-se em débito, o cantor compeliu-se a expressar sincera gratidão: “Vocês são legais demais! Está tudo bem, eu sei que estou fodendo com tudo agora, mas beleza. Minha voz está fodida, estou doente, fazendo o melhor que posso. Eu não queria estragar tudo não estando aqui. Realmente queria vir e que se foda, vou dar tudo de mim, apenas tentar o meu melhor e vamos superar isso juntos. Muito obrigado por serem tão gentis e ficarem ao meu lado, acreditem em mim. Vocês são lindos pra cacete, muito obrigado por terem vindo. Está duro e difícil pra cacete, não estou enganando ninguém e está tudo bem, eu sei. Vamos tocar uma do The Amanuensis agora e ela se chama Atlas”, mais uma porretada no começo, com traços de Deftones. Admirado com o apoio recebido mesmo longe de suas condições ideais, Chris elogiou o público no meio da canção: “Vocês são os melhores” e pediu que erguessem as mãos.

E as escusas e declarações de amor não cessaram antes de Doxa, com magnífico som de baixo e vocal gutural que deveria tê-lo arrebentado de vez: “Uma das platéias mais apaixonadas que tivemos nessa turnê, muito obrigado! Eu sinto muito, galera. Eu realmente gostaria de estar 100% para vocês e estou muito puto no momento. Façam a parte de vocês e eu farei a minha”. Então, com timbre de voz que às vezes lembrava Phil Anselmo, ressaltou o clima amistoso com os co-headliners: “Façam barulho para o Scars Of The Sun. Esses caras são verdadeiros guerreiros por lidarem conosco na estrada. Amamos vocês, muito obrigado por se juntarem a nós, somos gratos! Vamos em frente, vocês querem algo pesado ou algo bonito agora? Algo bonito? Acho que vocês querem um pouco de Despacito… querem algo pesado? Beleza! Quero ver uma porra de um circle pit!”. E como ele conseguiu executar Empty Vessels Make The Most Noise permanece um mistério, pois ela soou tão pesada e vigorosa que desenrolou até mesmo os dreads de Adam ao agitar.

Antes de Regenerate fechar a trinca de Gnosis (2012), vestindo camiseta com a bandeira de Porto Rico, o vocalista destacou suas origens começando em espanhol e migrando para o inglês: “Yeah, mi familia es boricua, soy puertorriqueño. Eu falo o pior espanhol da porra do mundo, mas gostaria de pelo menos dizer na língua nativa dos meus pais: ‘Muchas gracias’ a todos, muito obrigado por nos receberem no Brasil. Como não sei a próxima vez que estarei aqui, querem fazer algo bem legal comigo? Vou tentar em espanhol: ‘Toma una rodilla’, todos, ajoelhem-se”. O certo seria “Todos de rodillas”, ele traduziu “Take a knee” literalmente e a mensagem foi captada (exceto por uma fã que insistia na pista: “É para fazer uma roda!”, por talvez ter entendido: “Forma uma rodinha”) e cumprida de modo bem mais gentil com quem não se abaixou do que em shows do Slipknot. Exausto, Chris comandou o concomitante pulo coletivo, começou a canção sentado entre os amps de retorno e terminou-a chorando debruçado na inclinação do palco recebendo afagos do povo no gargarejo como incentivo e reconhecimento por todo seu esforço. Emocionado, ainda riu quando um fã lhe devolveu o microfone perdido no alvoroço e assim a banda deixou o palco.

Voltando para o encore, uma novidade: Olly e John em posse de duas belas guitarras azuis de oito cordas. E se os fãs pediam por Blue Sky Thinking, o que ouviram foi o cantor fazer a protocolar checagem: “Vocês querem mais uma? Beleza, mas vou precisar de muita ajuda nessa próxima, então se vocês sabem as palavras, quero ouvir todos os lindos filhos da mãe cantando junto. Esta se chama Origin Of Escape”, com baixo cavalar, para dizer o mínimo, mais borrifadas de spray na garganta e a galera ajudando tanto quanto o possível aos comandos de Chris: “Certo, meus amigos, vocês sabem o que fazer, mas mais alto!”. Fechando a atordoante noite, os elogios prosseguiram: “Amo vocês, caras! Muito obrigado por serem tão legais. Amamos vocês, Brasil! Esta é nossa última música e é a hora de Degenerate”, com pedidos para dividir a pista ao meio em um wall of death.

Encerrado o set ao som de Drop It Off, de Lil Duval, na discotecagem, o resumo foi o seguinte: sabe quando seu time deixa tudo em campo? Não importando o resultado, mas com o empenho demonstrado e cada gota de suor derramado servindo como maior prova de garra? Foi o caso! E com público e banda saindo como vencedores mesmo com a curta duração do show, em torno de curtíssimos cinqüenta e cinco minutos. Mas como exigir mais de um vocalista extenuado? Entregue, ele se jogou nos braços da galera, que o devolveu ao palco dividindo gritos: primeiro em seu nome, depois de seu grupo. Novamente ele se permitiu desabar em lágrimas, enquanto John registrava o momento e se seus colegas deixavam o palco, pois Chris simplesmente era incapaz. Não tendo o que dar aos fãs como souvenir, retirou as pilhas do microfone e as entregou como lembranças. Frustrado por não ter conseguido dar seu melhor, mas satisfeito pela superação, o vocalista terminou a noite consolado e adorado por quem subiu ao palco para abraçá-lo e tirar fotos.

Do lado de fora da The House e louco para fumar, enquanto ouvia-se Princess Of The Night (Saxon) no som ambiente, Olly conversava pacientemente com os fãs e tirava fotos. Aproveitando o ensejo, este escriba dele se aproximou e questionou o que de fato havia se passado com seu companheiro: se era uma gripe ou algum tipo de intoxicação alimentar com a qual sofrera Spencer Sotelo. Econômico, o guitarrista não tinha como explicar: “Não sei, cara. Às vezes essas coisas acontecem com os cantores”. Perto dele e na mais humilde camaradagem, todo o Monuments (menos o enfermo vocalista) já estava do lado de fora da casa, trocando idéias com os fãs, como se nem fossem eles que mal acabavam de passar o carro lá dentro no palco.

 

Setlists

Scar Of The Sun

01) Among Waters And Giants

02) An Ill-Fated Wonder

03) Versus The World

04) Disciple Of The Sun

05) Transition To Turbulance

06) I Am The Circle

07) The Truth About The Lies

08) Ode To A Failure [Com Vassilis Mazaris, vocalista do Daylight Misery]

09) Inertia

10) Anastasis

 

Monuments

01) A.W.O.L.

02) I, The Creator

03) Leviathan

04) Stygian Blue

05) Mirror Image

06) Atlas

07) Doxa

08) Empty Vessels Make The Most Noise

09) Regenerate

Encore

10) Origin Of Escape

11) Degenerate

Outro 1: Drop It Off [Lil Duval]

Outro 2: Princess Of The Night [Saxon]

 

Nota final: para os versados em inglês que quiserem conhecer melhor o simpático vocalista do Monuments (ele não lembra Marcelo, lateral-esquerdo do Real Madrid?), o site Love Is Pop traz entrevista exclusiva com Chris Barretto. Uma das partes mais interessantes foi descobrir que, segundo ele, seu grupo não toca “djent metal” e sim “experimental groove”. Para saber mais, clique em: www.loveispop.com/interviews/exclusive-interview-chris-barretto-of-monuments.

 
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