Texto: Vagner Mastropaulo
Fotos: Andre Santos (@andresantosmnp)
Com desfalques e um “reserva”à altura, Persefone finalmente estréia no Brasil e passa no teste!
Seja sincero: o que você conhece a respeito de Andorra? Pouca coisa, certo? Se curte futebol, sabe que a seleção local é um tradicional saco de pancadas nas Eliminatórias Européiaspara aEurocopa e Copa do Mundo… E não é que de lá surgiu uma banda legal de progressivedeath metal? E já podemos adiantar: mesmo como “time misto”, as “alterações” mantiveram o nível e, divulgando Metanoia (22),agradaram em cheio aos fãs na estréia em nosso país desde sua fundação em 2001.
Preparando terreno para a atração principal, promovendo The Answer (23) e formada por Lucas Povinha (vocal), Rafael Savone (guitarra), Clodoaldo Barboza (baixo), Lucas Cardoso (teclados) e Lucas Emidio (bateria), os paulistanos da The Seerpisaram no palco às 20:11, embora prometidos para as 20:00. Na prática, tocaram o EP de vinte e sete minutos na íntegra,reembaralhada a ordem,abrindo com Alone e a belíssima Mother e, de imediato, se sacava a competência técnica do quinteto,super bemencaixado no evento. A lamentar somente o público modesto, ainda que tenha encorpado consideravelmente no decorrer da apresentação, levando-se em conta ser um dia útil.
Enquanto observávamos a cuidadosa decoração, incluindo a pele do bumbo com nome e logo do grupo e um par de banners laterais também com o símbolo, fora os telões, o frontman se dirigiu aos presentes pela primeira vez: “Boa noite, Manifesto! Somos a The Seer, é um prazer estar aqui hoje à noite podendo compartilhar este momento maravilhoso com todos vocês e aguardar pela tão esperada Persefone. Essas duas primeiras músicas que tocamos foram basicamente as que a gente abriu os nossos trabalhos e estamos fazendo um show de divulgação basicamente do nosso primeiro CD, que foi lançado há umas semanas, chamado The Answer. Espero que vocês gostem! Vamos tocar mais uma música nossa, para variar” –a ótima Nothing, com tremendo solo de Rafael!
Democráticos, Clodoaldo pediu a palavra: “Bom, aproveitando este momento de abrir para uma banda do caralho, tem muita gente com câmera e algumas coisas aqui porque hoje estamos gravando o nosso vídeo-clipe aqui na casa. Então, gente, por favor, cheguem mais perto do palco para ficar bonito!”. Bem humorado, Povinha complementou e foi possível constatar uma dose deironia: “Espero que vocês gostem, é a música mais bonitinha e fofa da banda”. EraEgo, uma porretada, com aprofundamentoda zoeira: “Valeu! Obrigado! Espero que esta canção de amor tenha tocado seus corações! Bom, espero que vocês tenham curtido, vamos tocar agora a faixa que dá título ao nosso trabalho. Muito obrigado mais uma vez pela presença de todos vocês. É isso, muito obrigado!”. Trinta e oito agradabilíssimos minutos e abram os olhos, pois The Seerchegou para ficar!
O padrão de atraso aumentou levemente para dezoito minutos, sem atrapalhar o andamento da festa, e aPersefone deu as caras às 21:18.No vocal, Daniel Rodríguez Flys surpreendeu ao cobrir a contento a vaga do titular Marc Martins Pia, “indisponível para esta turnê por razões pessoais”, em livre tradução nossa e segundo o tecladista Miguel Espinosa ao ser indagado por este escribaatravés do e-mail encontrado napágina da banda no Facebook. Completaram o line-up os guitarristas Carlos Lozano Quintanilla e Filipe Baldaiae o baterista Sergi Verdeguer. Sentiu outra ausência? No mesmo e-mail, prontamente respondido, diga-se de passagem, às 03:23 da madrugada pós-show, Miguel elucidou: “Nosso baixista [nota: Toni Mestre Coy] não pôde vir à turnê por razões pessoais, então decidimos usar uma versão gravada de suas linhas de baixo” –involuntariamente explicando a etiquetaidentificada por este repórter com um “bass” grafado num pedal perto de Carlos no palco.
Trocas esclarecidas, mandaramFlyingSeaDragons e Mind As Universe, exatamente como em Spiritual Migration (13), até a primeira interação do refererido Daniel: “Muito obrigado, São Paulo! Como estamos indo esta noite? Esta próxima música se chama StillnessIsTimeless”. Encerrada, anunciou: “Muito obrigado, meus amigos! Como estamos indo esta noite? Somos uma banda chamada Persefone, a gente vem de um país pequeno chamado Andorra e estar aqui, pela primeira vez no Brasil, significa muito para nós. Muito obrigado pelo apoio. Vocês são sensacionais, falando sério! Esta próxima música se chama PrisonSkin. Estão prontos, meus amigos?”, incendiando a massa com direito a coro auxiliar de “Hey! Hey! Hey! Hey!” e extremamente aplaudida no final.
Sem decoraçãoalém do nome do conjunto nos telões,seu frontman continuava antecipando: “Vamos tocar para vocês uma música de nosso álbum mais recente chamado Metanoia. Para essa música, quero ver lanternas e isqueiros erguidos. Deixem-me ver as luzes de vocês para cima, por favor! Esta música se chama Merkabah”.Cantada coletivamente em alto e bom som, a parceria foi um lindo espetáculo com as luzes acesas iluminando o ambiente, gerando gratidão e novasolicitação, devidamente atendida: “Muito obrigado! Para esta próxima música,vamos voltar a um álbum chamado Spiritual Migration. Esta se chama The Great Reality. São Paulo, vamos fazer um circle pit! Vamos nessa!”.
Juntas vieram Spiritual Migration,a instrumental CosmicWalkers e Daniel tornou a se comunicar: “Muito obrigado! É sério, estamos muito felizes por estarmos aqui no Brasil pela primeira vez! Esta música é dedicada a vocês: esta é Living Waves”, outra amostra de entusiasmada participação geral oferecendo suporte. Com otimbre característico de EinarSoldberg, do Leprous, Metanoia rolou até a checagem: “Estão prontos?”. Evidentemente, todos estavam,Katabasis, a sucessora no full length, provou-se um arregaço, uma roda foi justificada pelaqualidade da paulada e nem um contratempo freou o ímpeto de Filipe. O vocalista interveio:
“Vocês são fantásticos! Muito obrigado! Ok, alguém quebrou uma corda, então vamos acalmar os ânimos por um minuto. Então, vocês sabem, antes de nós, houve uma banda chamada The Seer tocando esta noite e eles foram fantásticos! Então muito obrigado por terem dividido o palco conosco, significa o mundo para nós! E, por fim, não estaríamos no Brasil se não fosse por vocês, galera! Do fundo do meu coração, muito obrigado! Então, temos ainda algumas músicas para vocês esta noite e a próxima se chama… Não, na verdade, não vou dizer. É do álbum Shin-ken. Não vão adivinhar? FallToRise”, filha única do citado play de 2009. Ainda em sua execução, uma provocação:
Certo, meus amigos! Vocês sabem que momentoé este… Tocamos na Colômbia ontem, eles fizeram um grande circle pit e acho que vocês conseguem fazer melhor. Quero ver uma roda deste lado até o outro agora mesmo. Estão prontos?”. A galera estava e então foi dada a notícia que ninguém queria escutar: “Muito obrigado, São Paulo! Somos aPersefone e esta é nossa última música esta noite”. Era Aathma: Part III. OneWith The Lighte, quase concluída, o frontman fez menção de se despedir: “Esperamos que tenham se divertido esta noite. Esta foi nossa primeira vez no Brasil e não será a última, prometemos a vocês!”. Durante a fala, Filipe desceu à pista e, ao vê-lo no meio do povo, seu companheiro nas seis cordas o imitou. A reação? Espaço suficiente para ambos, roadies garantindo haver cabo e do chão terminaram a pedrada!
Elogios se fizeram necessários: “Vocês são sensacionais! Muito obrigado, São Paulo! Até a próxima vez!”. Com Aathma: Part IV. …ManyOfOne ao fundo e os cinco perfilados e curvados em sinal de agradecimento, ao ouvirem os fãs irredutíveis gritando “One more song! One more song!”, cederam e emendaram um encore sem sequer subirem as escadas. Antes, porém, inesperadamente,Filipe disparou num claríssimo português com sotaque lusitano: “Olá, Brasil! É uma honra estar aqui com todos vocês. Vivemos num país muito, muito, pequeno e nunca pensamos que estaríamos aqui. É especial para a banda! Viva São Paulo! Viva o Brasil!”. E foi impossível captar as duas últimas frases porque a euforia se instalou, sobrepondo-se a ele, quearrematou:
“Vamos tocar mais uma música para vocês, apenas uma. Só uma, mas é uma música longa. Alguém pode adivinhar qual é? Votos por Gaia! Quem quer ouvir Purity? Não são muitos querendo ouvir Purity”. E quando um gaiato sugeriu uma repetida, a réplica foi em tom de brincadeira: “Nós já tocamos Spiritual Migration! Já foi! Qual? ReturningTo The Source? Quase certa, mas essa eu não sei! Já tocamos FallToRise, é claro! Enfim, ouvi uns comentários aqui. Digam-me algo sobre o Brasil: o que é bom aqui?”. As respostas? Feijoada, caipirinha e putaria (sim, acredite! Vergonha alheia!). Ele retomou: “Enfim, a verdadeira razão pela qual queríamos fazer a turnê na América Latina foi para saborearmos a comida! Ok, vamos tocar mais uma música e ela se chama The MajesticOf Gaia”.
O adeus soou franco: “Muito obrigado, meus amigos! Somos aPersefone e voltaremos em breve, prometemos a vocês. Até lá, cuidem-se! Amamos vocês, São Paulo!”. De se estranhar,apenas um fato isolado: Filipe jogou uma palheta à platéia e Carlos nenhuma, sempre gesticulando que faria posteriormente. Deveria ter entregado?Jamais forçadamente e trata-se de uma opção, mas restou a dúvida em função da imensa quantidade delas à venda num kit de três por quinze reais: será que precisavam tanto assim angariar recursos com elas? Enfim, agora é aguardar para que consigam retornar com a “equipe inteira” para detonarem novamente, pois os oitenta e seis minutos no Manifesto voaram!
Setlists
The Seer
01) Alone
02) Mother
03) Nothing
04) Ego
05) The Answer
Persefone
01) Flying Sea Dragons
02) Mind As Universe
03) Stillness Is Timeless
04) Prison Skin
05) Merkabah
06) The Great Reality
07) Spiritual Migration
08) Cosmic Walkers
09) Living Waves
Intro: Metanoia
10) Katabasis
11) Fall To Rise
12) Aathma: Part III. One With The Light
Outro: Aathma: Part IV. …Many Of One
Encore
13) The Majestic Of Gaia
