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Queensrÿche/Judas Priest – Vibra São Paulo – 20/04/25
Postado em 30 de abril de 2025 @ 01:17


Texto: Vagner Mastropaulo

Fotos: Flavio Santiago

Queensrÿche e Judas Priest se superam indo além das magistrais atuações do Monsters Of Rock!

No primeiro dos dois side shows do Monsters Of Rock em São Paulo, Queensrÿche e Judas Priest abarrotaram a pista do Vibra São Paulo em plena noite de domingo de Páscoa, conseguindo ir além do que foi perfeitamente mostrado no festival. E calmamente pudemos conferir tudo que rolou, pela primeira vez confortavelmenteinstalados num dos camarotes, desde a primeira ida à casa, ainda sob seu nome original de Credicard Hall num longínquo outubro/99, quando o Red Hot Chili Peppers vinha pela segunda vez ao país e promovendo Californication (99).

Fazendo o esquenta do lado de fora, Mayara Puertas (vocal), Rene Simionato (guitarra), Castor (baixo) e Amílcar Christófaro (bateria) apresentavam seu “Projeto TS & Friends Acoustic Sessions”, com direito a duas entradas e executando covers de clássicos do rock/metal que tanto amamos e agradaram em cheio a quem optou por uma entrada tardia às instalações! Infelizmente, não foi nosso caso, preferindo apreciar os comes e bebes tranqüilamente aguardando dentro do recinto, sem o risco de tomarmos chuva.

Cinco minutos antes do programado, disparou-se um trecho de The Mob Rules, do Black Sabbath, como intro, colada à narração de abertura do texto encontrado no início do clipe de Queen Of The Reich, na prática abrindo a festa onde tudo começou: a faixa um do lado A do primeiro e único EP já lançado pelos caras, Queensrÿche (83), cuja logo da capa estampava o backdrop do conjunto. E como as facilidades atuais são tantas para traduções, deixamos aqui o original em inglês mesmo:

“In the millennium after the 4th Great War, the world was in chaos. An evil adventurer had discovered an ancient computer energized by a crystal so powerful that it enabled her to enslave the world and to become queen… ‘Queen Of The Reich’. Many tried to destroy the queen and failed, only to be absorbed into her computer shrine. Mankind’s last hope was the five Freedom Fighters…” – atualmente, Todd La Torre (vocal), Michael Wilton e Mike Stone (guitarras), Eddie Jackson (baixo) e Casey Grillo (bateria).

Ausentes do país desde abril/12 no Tokio Marine Hall, então HSBC Brasil, no antepenúltimo show de Geoff Tate no conjunto, seu substituto brilhantemente segurava a onda em sua segunda apresentação no país e dava o ar da graça: “Certo! Como estão se sentindo esta noite? Ok? Vocês conhecem esta”. O povo, de fato, prontamente reconheceu Operation: Mindcrime enquanto observávamos o restante da decoração consistir de espadas cruzadas em banners dos lados da bateria, o nome do grupo abaixo, o símbolo nas peles dos bumbos e… Dois escudos da capa de Invincible Shield (24), do Judas Priest, antecipadamente a postos nos cantos superiores.

Se na primeira música, uma moça ao lado deste escriba constatava: “Mas a voz é igualzinha à do Geoff Tate!”, na faixa-título do álbum de 1988 a semelhança se escancarava, praticamente como um tributo, porém, jamais deixando de imprimir suas “impressões digitais” na interpretação e sem qualquer tipo de descaracterização vocal. Walk In The Shadows veio a seguir e novamente o frontman se comunicaria: “Obrigado! Vamos tocar outra agora do Operation: Mindcrime. Agora mesmo, é hora de quebrarmos o silêncio. Façam barulho! Vamos!” – aludindo a Breaking The Silence e, como no disco, sucedida pela linda I Don’t Believe In Love, bastante acentuada no baixo.

Encerrada, surgiu a maior interação do simpático vocalista: “Certo! Como estão todos até aqui? Vocês estão bem? Cara, é tão bom estarmos aqui! Foram treze longos anos desde que o Queensrÿche esteve bem aqui em São Paulo e estamos muito, muito empolgados. Esperamos que vocês se divirtam muito hoje. Obviamente o poderoso Judas Priest virá a seguir. Somos grandes fãs e vamos ficar pela área para pegarmos o show deles também. Se pudessem ligar as luzes da casa rapidinho, quem nunca viu o Queensrÿche antes? Levantem as mãos quem nunca viu o Queensrÿche. Puta merda! É muita gente!”.

No chutômetro, pelo menos metade da galera realmente o surpreendeu e Todd retomou: “Bem, ouçam, para as pessoas que estão tendo a experiência em nosso show pela primeira vez, espero que estejam curtindo e obrigado por nos darem uma chance. E obrigado por virem cedo para darem uma conferida em nosso show. E para todos os outros, que mantiveram suas mãos para baixo, isso significa que vocês viram o Queensrÿche antes. Obrigado pelo apoio contínuo de vocês, vamos continuar mantendo a roda girando. Estão prontos? Aí vamos nós!” – e todos estavam, para Warning, do primeiro play, o quase homônimoThe Warning (84), com o perdão do preciosismo.

As próximas foram: The Lady Wore Black, não tocada no estádio do Palmeiras; The Needle Lies, voltando a acelerar o andamento das coisas; e Take Hold Of The Flame, com agudos sensacionais disparados antes da segunda estrofe e ao seu fina! Performance tão fina quanto à desempenhada em Empire, outra com linhas vocais bastante similares às de Geoff Tate, a ponto de, caso você cerrasse os olhos, acreditar que quem ali estava era o vocalista original. E, em tempo, que delícia gritar o título ao longo da cantoria!

Caminhando para um final precoce, Screaming In Digital trouxe um lindo e potente urro grave e a última foi Eyes Of A Stranger – sim, nada de seu maior clássico,Silent Lucidity, ausência também sentida na véspera… Como outro, Main Title (From The Television Series Knight Rider), de Stu Phillips, tema conhecido no Brasil como o de A Super Máquina (82-86), série protagonizada pelo personagem Michael Knight, interpretado por David Hasselhoff, posteriormente ainda mais famoso como o salva-vidas Mitch Buchannon do seriado Baywatch (89-00).

De diferente nas duas datas em São Paulo, no Monsters tocaram The Mission e Nightride, como sétima e oitava, substituídas por Breaking The Silence e The Lady Wore Black, quarta e sétima no Vibra São Paulo. Se você for dos detalhistas, percebeu que todas as músicas tocadas são da fase Geoff Tate, ou seja, preteriu-se todo o material dos quatro álbuns gravados com o substituto: Queensrÿche (13); Condition Hüman (15); The Verdict (19); e Digital Noise Alliance (22). Em suma, foram: cinco de Operation: Mindcrime; duas do referido EP de estréia, Queensrÿche, Rage For Order (86) e The Warning; e uma de Empire (90).

Pela breve duração de uma hora e três minutos, seria herético chamar de “abertura de luxo” o que acabara de ocorrer? Seria um longo debate… E se você quiser se aprofundar um pouco na linha de trabalho um tanto menos melódica e mais calcada no metal tradicional do competente Todd La Torre, aprecie Rejoice In The Suffering (21), sua estréia em trabalhos solo.

Durante o intervalo de quase meia hora, preservando um pouco a decoração, um bandeirão com a capa de Invincible Shield cobria parcialmente o palco. Nele, os seguintes dizeres, exatamente assim na vertical, podem te dar uma bela amostra de seu tamanho:

United we stand

Divided we fall

Defenders of metal

For one and for all

Keeping the faith

Honour and pride

Strength in this bloodline

God on our side

Eternal immortal

Metal burns bright

Lifting our horns

Ready to fight

Stand and bare witness

With all of our might

As we raise

The invincible shield

 

Em relação ao Monsters, simplificaremos soltando três spoilers: houve a adição de Saints In Hell como oitava do repertório; a outro foi We Are The Champions, do Queen; e antes de Invincible Shield e não exatamente respeitando a cronologia, o vocalista Rob Halford leu os nomes de todos os álbuns do Judas Priest diretamente de um sulfitão colado no chão, exceto os gravados com Tim “Ripper” Owens – tudo bem que não toquem nada desta fase, mas vá lá saber a razão de ignorá-los…

Três minutos antes do horário divulgado de 21:30, aparentemente era a noite de excertos de hits do Black Sabbath inaugurarem os sets, desta vez com War Pigs. Então, sabe os dizeres postados acima? São a “letra” da segunda intro, Clarionissa, disparada em versão instrumental e abrindo terreno para a ótima pancada em forma de Panic Attack. Como experiência ganha jogo e cientes de que a fórmula “uma nova, uma antiga” é receita para o sucesso, emendaram a sempre divertida You’ve Got Another Thing Comin’. A primeira interação de Rob Halford foi relativamente breve: “Olá, São Paulo! O Priest está de volta! Estão prontos para um pouco do heavy metal do Judas Priest? Estão prontos? Todos prontos? Vamos nessa!”.

E todos estavam mais do que prontos para uma dupla de British Steel (80), porém na ordem invertida da bolacha: Rapid Firepavimentando o caminho para aseminalBreaking The Law – desnecessário dizer a maravilhosa algazarra que ela provocou, especialmente por se tratar de uma versão mais acelerada do que em estúdio e quinze segundos mais curta… No mesmo combo sem interrupções ou pausas, mandaram Riding On The Wind.

Surpreendendo os presentes que se controlaram sem apelar para o site Setlist.fm a fim de antecipar o que viria, Love Bites foi a única de Defenders Of The Faith (84) e, transcorridos vinte e nove minutos, o grupo inteirado por Richie Faulkner e Andy Sneap (guitarras), Ian Hill (baixo) e Scott Travis (bateria) já havia despejado seis pedradas para o deleite dos olhos e ouvidos da galera. E a fila só aumentava: Devil’s Child e Saints In Hell, como citado acima, retirada no Monsters – e que agudos e riffs infernais ela possui, com o perdão do trocadilho…

Regressando para o play em divulgação, executaram Crown Of Horns, mais cadenciada e em tons mais graves, dando respiro ao frontman. Agora você aceita uma verdade indiscutível? Para os mais radicais, Turbo (86) pode ser contestado até hoje, mas não há debate quanto a Turbo Lover ao vivo, pois ela simplesmente tira qualquer um para dançar ao: começar malemolente; encorpar; e virar um musicão da porra! E há testemunhas: o bando de gente que engrossou o coro de seu refrão!

Rompendo a barreira de uma hora com onze lapadas no lombo da massa e saltando quarenta anos no tempo, se saíram com Invincible Shield, mas não sem antes Halford oferecer sua mais extensa interação da noite: “Muito obrigado! Uau! Amamos tanto vocês, São Paulo! Cara, digo a vocês: é ótimo estarmos de volta! Parece que, há duas semanas,estávamos aqui com o Pantera. Esse foi um show louco! Mas é tão lindo estarmos de volta com vocês outra vez. Temos tantas ‘memórias metálicas’ que se torna arrepiante voltarmos e vermos todos vocês de novo. E agradecemos a cada um de vocês por manterem a fé no heavy metal viva em nossa comunidade heavy metal. Sabem, o Judas Priest vem fazendo heavy metal agora há quase cinqüenta anos. É muito tempo!”.

E aí veio a mencionada polêmica sobre deixar de lado os plays com Ripper Owens: “Colocaram essa coisa na minha frente para eu me lembrar de alguns dos álbuns que fizemos: Rocka Rolla; Sad Wings Of Destiny; Sin After Sin; Stained Class;Point Of Entry;Killing Machine;British Steel;Screaming For Vengeance; Defenders Of The Faith; Turbo; Ram It Down; Painkiller;Nostradamus; Angel Of Retribution; Redeemer Of Souls; Firepower; e agora este bebezinho metal mais recente, Invincible Shield” – não precisava, né?

Seguindo adiante, Victim Of Changes foi lindamente puxada com a dupla de guitarristas tocando junto e com Glenn Tipton “aparecendo” no telão em forma de homenagem, como na véspera no festival. JáThe Green Manalishi (With The Two Prong Crown) já possui tanto o DNA do Judas que às vezes é custoso crer que, na verdade, ela é material original do Fleetwood Mac! E não seria exagero cravar que um dos momentos mais aguardados do evento havia finalmente chegado… Com a palavra, o fenomenal Scott Travis:

“São Paulo, Brasil, como estão se sentindo esta noite? Muito obrigado por nos receberem de volta em sua linda cidade. Esta noite é nosso último show no Brasil, mas vamos fazer dele algo memorável porque sempre faço esta pergunta: temos tempo para mais uma música, São Paulo! O que querem ouvir? Isso foi muito bom, mas quero que os caras lá atrás ouçam. Mais uma vez, São Paulo, o que querem ouvir?”. Na boa? Sequer houve tempo de o público acabar de responder e ele já puxava a seminal Painkiller.Aliás, quantos ali não teriam passado a curtir ou conhecer o Judas Priest justamente a partir desta faixa?

Para o encore, só sucessos, a começar pelo logo da banda descendo iluminado e The Hellion como intro pré-Electic Eye. As duas são tão indissociáveis que, se você tentar encontrar a segunda em separado no YouTube, não consegue… Quer mais? Hell Bent For Leather, precedida pela entrada de Rob Halford com um chicotinho entre os dentes e montado numa Harley-Davidson sobre a quala cantou quase inteiramente.

A saideira? Living After Midnight, com o frontman deixando temporariamente o palco e retornando com um maravilhoso colete jeans (aquele do tipo “espanta-mulher”) com patches até o chão e de fazer inveja a qualquer true metal de butique! Como outro ao se despediram, We Are The Champions, de seus conterrâneos do Queen, fechou a noite em uma hora e cinqüenta inesquecíveis minutos com a mensagem claríssima no telão: “The Priest Will Be Back”.

Permite alguns adendos? Rob Halford segue cantando como se espera do Metal God, de modo impecável e de arrepiar; a dupla Richie Faulkner e Andy Sneap segue super entrosada, além de ter revitalizado o Judas Priest e garantido a extensão da carreira do grupo até onde a voz do frontman agüentar (pelo visto, ela vai longe!); Ian Hill está a cara de Stênio Garcia, mas não a da versão peladonae espalhadora involuntária de nudes ou pós-harmonização facial, e sim com o rosto que conhecemos do ator; e Scott Travis transmite a segurança que toda banda precisa de quem empunha as baquetas, sem contar que seria inconcebível um dia ouvirmos Painkiller ao vivo sem ele…

Quer conferir como foi? Terá sua chance, pois uma alma caridosa fez a postagem integral no YouTube, tanto para o Queensrÿche [https://www.youtube.com/watch?v=0Fws1EDNCuc] quanto para o Judas Priest [https://www.youtube.com/watch?v=fiDnIKZlhMY]. Deve ter irritado quem atrás do cidadão ficou e é de se admirar que ainda tenha braço… Mas fica o registro histórico!

 

Setlists

Queensrÿche – 1h03’ / Oficial: 20:00 / Real: 19:55–20:58

Todd La Torre (vocal), Michael Wilton e Mike Stone (guitarras), Eddie Jackson (baixo) e Casey Grillo (bateria)

Intro: The Mob Rules [Black Sabbath]

01) Queen Of The Reich

02) Operation: Mindcrime

03) Walk In The Shadows

04) Breaking The Silence

05) I Don’t Believe In Love

06) Warning

07) The Lady Wore Black

08) The Needle Lies

09) Take Hold Of The Flame

10) Empire

11) Screaming In Digital

12) Eyes Of A Stranger

 

Judas Priest – 1h50’ / Oficial: 21:30 / Real: 21:27–23:17

Rob Halford (vocal), Richie Faulkner e Andy Sneap (guitarras), Ian Hill (baixo) e Scott Travis (bateria)

Intro 1: War Pigs [Black Sabbath]

Intro 2: Clarionissa [Tour Intro] [Instrumental]

01) Panic Attack

02) You’ve Got Another Thing Comin’

03) Rapid Fire

04) Breaking The Law

05) Riding On The Wind

06) Love Bites

07) Devil’s Child

08) Saints In Hell

09) Crown Of Horns

10) Sinner

11) Turbo Lover

12) Invincible Shield

13) Victim Of Changes

14) The Green Manalishi (With The Two Prong Crown) [Fleetwood Mac]

15) Painkiller

Encore

Intro: The Hellion

16) Electric Eye

17) Hell Bent For Leather

18) Living After Midnight

Outro: We Are The Champions [Queen]

 

 
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