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Ratos De Porão – Sesc Pompéia (Comedoria) – 12 e 13/01/24
Postado em 21 de janeiro de 2024 @ 14:19


Texto: Vagner Mastropaulo

Fotos: Flavio Santiago

Nunca é apenas mais um show na terra de massacres do Ratos De Porão!

No último feriado da Proclamação da República, João Gordo (vocal), Jão (guitarra), Juninho Sangiorgio(baixo) e Boka (bateria) até tentaram cumprir a agenda passando pelo Sesc Santana, mas a inacreditável falta de energia (maldita Enel!) forçou o adiamento. Em tal cenário, fazendo as contas, os afortunados que compareceram ao mesmo local em 14/12e agora se deslocaram à unidade Pompéia puderam ver o Ratos De Porão duas vezes em menos de um mês – a rigor, três, com as datas dobradas na Comedoria!

Se na quase retomada ainda pandêmica do final de 2021 o quarteto fez cinco pares de shows em finais de semanas consecutivos no La IglesiaBorratxeria, de 19/11 a 18/12,resgatandoCrucificados Pelo Sistema (84), Descanse Em Paz (86), Cada Dia Mais Sujo E Agressivo (87), Brasil (89) e Anarkophobia (91)sempre na íntegra e com bônus, a dupla de noites da vez contemplava justamente o sucessor de tudo isso aí.Com dois minutos de atraso, oscaras brotaram no palco às 21:32usando máscaras de papelão reproduzindo a capa deJustAnother Crime… In Massacreland (94), emboraa de Jãosequer tenha resistido a Money, enquanto as demais três foram removidas antes da interação inaugural do possível maior mestre de cerimônias do rock e metal brasileiros:

“Ó, trinta anos deste disco, hein? Disco super bem produzido, produção de Alex Newport, fui eu sozinho lá para Phoenix fazer essa parada, foi uma tentativa, um ‘burro n’água’, de tentar lançar um rolê gringo e a gente se fodeu… Por isso que a gente tem raiva do disco, mas o disco é bom! A gente estava ensaiando e ele e é bom! Vai, Massacreland”. E algo inesperado ocorria: talvez devido ao fato de a faixa ser em inglês, não se tratar de um hit, ser um pouco mais lenta e longa ou pelo reflexo da chuva que castigou a cidade desde a tarde,a galera simplesmente demorou a agitar…

Emendada veio Diet Paranoiae nela afesta começou a esquentar, continuando a sessão do descarrego, até Gordo retomar: “Tem umas músicas boas no disco, mas, se não fosse o grunge, ia ser o melhor disco de thrash metal do Brasil de todos os tempos. Chegou um momento em que a gravadora, a Roadrunner, falou assim: ‘Vocês estão datados! Quem faz som rápido é criança’. E nós: ‘Caraio, fodeu!’. Mas estava todo mundo lento, né? Napalm Death fazendo coisa lenta, o Slayer, o Sepultura com: ‘Roots, Bloody Roots’. ‘Temos que entrar nessa também’. Aí a gente se fodeu!”. Jãoenalteceu: “O nosso lento é rápido, mano! Isso é verdade!”. E o vocalista arrematou: “Vem, Satanás!”, aludindo a SatanicBullshit.

Breaking All The Rules foi uma pancada e não se sabe como nenhuma outra banda de metal jamais a regravou. Para se ter uma idéia, o site SecondHandSongs, especializado em listar covers, só registra uma outra entrada, de um conjunto chamado Rockover e na estranha coletânea Hits Vol. 1 – Alive (01). Será que a dificuldade se dá por não liberação dos direitos autorais? Teria Peter Frampton escutado a versão nacional e se traumatizado a ponto de não cedê-los mais? Mera conjectura… Sincero, ao encerrá-la, o frontman provocou: “Chato! Não tá chato? Tô achando que tá chato, cara!” – e fizeram C.R.A.C.K. (Criminal Rats Are ChildrenKillers).

Agora você quer ver uma interação despojada? “Cara, esse disco está fazendo trinta anos.O Crucificados está fazendo quantos anos? Quarenta! Quarenta anos de idade! 84, 2024. Qual outro disco está fazendo aniversário também? Século Sinistro, dez anos de Século Sinistro! Vai sem sampler mesmo, foda-se. É isso? Não está dando certo o bagulho!” – sim, sem intro para Video Macumba, arregaço em que Boka destruiu, com direito a um longo trechoinstrumental incomum à banda.Incomodado com a “apatia quase geral”, com o perdão do trocadilho, o guitarrista instigou: “Silêncio do caralho, né, meu? Puta que pariu! Por isso que está todo mundo virando crente, mano. Igreja de crente é a maior agitação!”.E a resposta em gritos de “Ra-tos! Ra-tos” levouaThe Right Side Of A Wrong Life.

Falante, Gordo contextualizou cada uma das cincopróximas: “Essa música também, assim, ela é… Não tem data e nem hora! Ela começa assim”, e cantarolou Suposicollor; “Essa letra é em inglês, mas em 1992 a gente já falava que tinha que lutar contra os inimigos nossos em comum, que são os nazistas filhos da puta. Trinta anos atrás a gente já estava mandando esse recado, só que era em inglês e ninguém entendia ainda”, paraReal Enemies; um misto de italiano e português que nem arriscaremos transcrever preparou terreno paraQuando CiVuole, CiVuole!; “Olha, essa é uma das músicas mais ‘pau’ que a gente já fez na vida, eu acho. Letra do Boka, quando ele tomou um ácido e teve uma BadTrip. Ele não faz isso há anos”; e “Olha lá! Em homenagem ao Walter”, Bart, baixista que gravou o play, enquanto o início de Ultra Seven No Uta ecoava pela casa.

AssimpassaramJust Another Crime… In Massacreland a limpo em quarenta e quatro minutosque voaram e o que se deu então foi covardia com uma chuva de clássicos praticamente ininterrupta no encore. Morrer, MadSociety e Crianças Sem Futuro, esta seguida de breve pausa e: “Descanse Em Paz! Descanse Em Paz, Jabá!”, homenageando o baixista falecido em 26/12.V.C.D.M.S.A. também teve término comentado: “Mais sujos e agressivos somos nós, R.D.P.”. E, se você conhece a vibe do grupo, se divertiu com o começo de Aids, Pop, Repressão ao ritmo de AnotherOneBites The Dust, do Queen. Hilário! As pedradas finais? Beber Até Morrer e Crise Geral. Vinte e duas pedradas em sessenta e cinco minutos… E tinha mais no dia seguinte!

 

13/01/24

Indo direto ao ponto, o que mudou?As máscaras foram abolidas; o público parecia mais sedento e descansado; os quatro mais entrosados com o próprio materiale sem a nhacatirada na véspera; os samplers que falharam rolaram numa boa; o som estava melhor equalizado e menos abafado; e havia a sensação de casa cheia. O começo foi novamente às 21:32, o que fez este escriba cogitar que o erro deva estarno horário em seu celular. O setlist foi idêntico, mesma duração e ordem, e talvez a única crítica sobre a performance, mais uma vez matadora, seja: não dava para tocar umas duas ou três no bis? Não importa quais, mas apenas em função no fã que adquiriu ingresso para ambas as apresentações. Aliás, fica o registro: as escolhas para esta parte do repertório ficaram todas entre os cinco primeiros full-lengths dos caras!

Porém, a semelhança eterna e imutável foi o humor ácido de João Gordo, como ao encerrar Money: “Parece que não terminava mais essa porra dessa música! Puta merda, hein? E aí? Beleza aí? Ratos De Porão comemorando aí trinta anos deste disco aqui, que é um disco bom, mas é ruim. É bom! É bom? É bom! É bom ou é ruim? Então vamos ver… Ó, essas músicas aqui a gente não toca há muitos anos, hein? Tocamos ontem, foi meio ‘calhambeque’, vamos ver se sai legal hoje!”.

Os agradecimentos antes de The RightSideOf A Wrong Life também foram sinceros: “Muito obrigado, amigos, pela presença de todos aqui nesse sábado maravilhoso hoje. Espero que todos estejam se divertindo muito porque, para nós, é meio foda tocar essas músicas, sabia? Cansa, mano! Muito devagar isso! Se liga nesta aqui, ó”. Bem como a relevância super atual de Suposicollor: “Essa música já tem trinta anos e parece que foi feita ontem, cara… A única letra em português, a gente não deixa de tocar essa música porque ela é foda”. Ou ressaltando a força coletivaantes de Crucificados Pelo Sistema: “Estão curtindo aí? Estamos vivos, viu? Acho que não vai acabar tão cedo, não. Só se eu morrer, o Jão morrer, e mesmo assim, sei lá… Essa é para vocês, hein?”.

E agora? Qual será o próximo passo? Carniceria Tropical (97) na íntegra? Ou surpreender todo mundo com “Feijoada Acidente?” – Brasil(95) e/ou “Feijoada Acidente?”International (95) por inteiro? Só o tempo dirá. Por fim, não pode passar batido: Jão, Juninho e Boka estão tocando demais! Evidentemente, não no sentido virtuoso, mas vá lá você fazer tanto barulho de qualidade como esses três! Ave Maria!!! A nova chance de conferi-los de perto? NoKool Metal Fest, em 11/02 no Carioca Club. Aí serão quatro shows em dois meses. Quer mais? O dia de encerramento do Summer Breeze, 28/04, no Memorial da América Latina. Nada mal, hein? Vivos e cada dia mais sujos, presentes e agressivos!

 

Setlist

01) Money

02)Massacreland

03) Diet Paranoia

04)SatanicBullshit

05) Breaking All The Rules [Peter Frampton Cover]

06) C.R.A.C.K. (Criminal Rats Are Children Killers)

07) Video Macumba

08) The Right Side Of A Wrong Life

09)Suposicollor

10) Real Enemies

11) Quando CiVuole, CiVuole!

12) Bad Trip

13) Ultra Seven No Uta

Encore

14) Morrer

15)MadSociety

16) Crianças Sem Futuro

17) Crucificados Pelo Sistema

18) Descanse Em Paz

19) V.C.D.M.S.A.

20) Aids, Pop, Repressão

21) Beber Até Morrer

22) Crise Geral

 
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