Reggae Live Station – Roots Nacional: Uma noite histórica no Espaço Unimed
Texto : Daniel Faccini
Fotos: Raíssa Corrêa
O reggae brasileiro em sua essência
Na noite de 29 de agosto de 2025, o Espaço Unimed, em São Paulo, viveu uma daquelas ocasiões que entram para a memória coletiva da música nacional. A 9ª edição do Reggae Live Station trouxe o subtítulo Roots Nacional e reuniu três nomes fundamentais do reggae brasileiro: Mato Seco, Tribo de Jah e Edson Gomes.
O público, que lotou a casa, sabia que estava diante de algo maior que uma sequência de shows. Era uma celebração da identidade, da resistência e da espiritualidade que o reggae carrega — e que, no Brasil, encontrou terreno fértil e gerações de artistas comprometidos.
Mato Seco – Juventude e resistência em forma de reggae
Às 21h30, os primeiros acordes de Mato Seco abriram a noite. O grupo paulista, já consolidado como um dos grandes representantes do reggae contemporâneo, subiu ao palco com a energia característica de quem transforma cada show em ato político e espiritual.
O setlist trouxe faixas como “Tudo Nos É Dado”, “Vou Pedir a Jah” e “Pedras Pesadas”, recebidas pelo público como hinos de resistência. A performance foi marcada por arranjos intensos, vozes firmes e uma vibração que conduziu os presentes a um estado de comunhão.
Visualmente, a banda reforçou seu discurso: luzes quentes e projeções que remetiam à luta social e ao cotidiano brasileiro. Cada refrão ecoava como manifesto, e os fãs, de punho erguido, respondiam à altura. Era o reggae falando de hoje, sem perder as raízes do passado.
Tribo de Jah – Espiritualidade e ancestralidade
Por volta das 23h, foi a vez da lendária Tribo de Jah assumir o palco. Formada nos anos 80, a banda carrega o peso de ser uma das pioneiras do reggae nacional. Liderados por Fauzi Beydoun, os músicos mostraram como a espiritualidade e a poesia continuam vivas em suas canções.
O setlist navegou por clássicos como “Uma Onda Que Passou”, “Morena Raiz” e “Regueiros Guerreiros”. Cada música parecia despertar uma memória coletiva: os casais dançavam abraçados, enquanto grupos de amigos cantavam em coro, emocionados.
O tom era quase cerimonial. As letras sobre justiça, amor e consciência ecoavam em uníssono com a plateia, criando uma atmosfera de paz e reverência. Foi um momento em que o Espaço Unimed parecia suspenso no tempo — apenas a pulsação do reggae guiava a noite.
Edson Gomes – O rei do reggae nacional
Passava da meia-noite quando Edson Gomes entrou em cena para encerrar a festa. Ícone absoluto do reggae brasileiro, com mais de quatro décadas de carreira, ele trouxe ao palco sua presença imponente e carismática.
O setlist foi generoso, passeando por faixas que moldaram gerações: “Malandrinha”, “Árvore”, “Campo de Batalha”, “Perdido de Amor” e “Fogo na Babilônia”. Cada acorde arrancava gritos, cada refrão se transformava em um mar de vozes.
Edson não apenas cantou: discursou, gesticulou, sorriu e mostrou que sua arte é, antes de tudo, um manifesto. A cadência firme do baixo e a percussão hipnótica mantinham o corpo do público em constante balanço, enquanto suas letras cortavam como flechas de consciência social.
No auge, “Campo de Batalha” fez o público vibrar em uma catarse coletiva, com milhares de pessoas cantando juntas, erguidas pelo mesmo ideal.
O Espaço Unimed estava tomado por cores, aromas e sons que traduziam a diversidade da cena reggae. Bandeiras, camisas estampadas com Bob Marley e com os próprios artistas brasileiros, famílias inteiras e jovens fãs compunham um mosaico humano que refletia a universalidade do gênero.
A cada intervalo, era possível sentir a expectativa vibrando no ar — como se todos soubessem que estavam participando de um marco. O público, caloroso e respeitoso, fez parte ativa do espetáculo, cantando, dançando e transformando o evento em um ritual coletivo.
Mais do que uma sequência de apresentações, o Reggae Live Station – Roots Nacional foi um documento vivo da força do reggae brasileiro, um elo entre gerações, entre a juventude combativa do Mato Seco, a espiritualidade da Tribo de Jah e a voz imortal de Edson Gomes.
O festival se mostrou uma celebração única: história, presente e futuro em uma mesma noite. A cada banda, uma dimensão do reggae nacional foi exaltada — a luta, a fé e a tradição.
Ao fim, ficou a sensação de que o reggae brasileiro não apenas resiste: ele floresce, se renova e continua cumprindo seu papel de unir, inspirar e transformar.