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SepticFlesh – Fabrique – 26/10/23
Postado em 19 de novembro de 2023 @ 16:29


Texto: Vagner Mastropaulo

Fotos: Gustavo Diakov

Com a bênção de Prometeu e seu fogo, SepticFlesh incendeia São Paulo!

A leitura de uma resenha de show pode passar a impressão de que um jornalista musical é um profundo conhecedor de todas as bandas que cobre e não é sempre assim. É mais comum do que se parece chegarmos “crus” à casa de espetáculos, por motivos variados: credenciamento confirmado em cima da hora; compromissos urgentes familiares ou profissionais (nem todos vivem dos sites); ou porque outro texto necessita ser terminado às pressas, afetando a pesquisa.

Também acontece de estarmos lá para redigirsobre grupos dos quais não gostamos,o que não é o caso aqui, mas ocorre e missão dada é missão cumprida. Enfim, nem tudo é prejuízo e uma vantagem corriqueira e acidental é se deixar levar pela atmosfera e sair do recinto sem ter sacado nada e com a sensação: “Mas o que foi isso? Só sei que foi bom!”. Todo este preâmbulo por um fato: o SepticFlesh fez uma das melhores apresentações do ano em São Paulo facilmente se colocando no Top 10, quiçá entre os cinco! Grata surpresa!

Antes, porém, com apenas um single no Spotify, foi exatamente com ele, logo depois da intro Awakening, que se inaugurou a festa e sua arte de capa estampava o telão de fundo, bem como estava preso à frente dos dois bumbos. A vocalista Jaque Albino fez as honras: “Boa noite, Fabrique! Nós somos a Adverse, é um prazer estar aqui em nosso show de estréia. Essa nossa primeira música foi lançada oficialmente esta semana, o clipe está no YouTube para quem quiser conferir e ela se chama Hawthorn’sWhispers. E agora, sem mais delongas, nossa próxima música se chama LightsOfHypocrisy”, inédita.

Falante, ela foi às raízes: “Obrigada! Nossa próxima música é um cover, uma homenagem ao Crucifixion BR, que é uma banda de que nossa baterista, Juliana Novo, e nosso guitarrista, Michel Turim, participaram” – completa o time formado em novembro/22 a baixista Patrícia Schlithler. Jaque retomou: “E como tem muita gente aqui que conheceu a Juliana justamente pela Crucufixion, passo a palavra a ela, caso queira falar alguma coisa”. Ela quis: “Queria só agradecer aí ao pessoal que veio a essa hora nos prestigiar e a todo mundo que apoia minha carreira desde o início com o Crucifixion em 1996! E agora com esta banda nova, espero que vocês gostem. Valeu aí!” – faltou detalhar se tratar de A Few Lies OfYourWhole Light.

Como o kit de Juliana estava à frente da bateria do headliner, havia pouco espaço para movimentação e basicamente cada um ficou em seu quadrado. Arise, do Sepultura, foi outra releitura e veio amensagemderradeira: “A gente queria agradecer pela presença de cada um de vocês. Infelizmente, nosso show de abertura já está chegando ao fim. Estamos caminhando para nossa última música, mas espero ver todos vocês numa próxima oportunidade. Nossa próxima e última música então se chama Beyond The Mist”, ainda a ser lançada. Meia hora causando impressão muito boa, especialmente para umaestréia.

Fundados em Buenos Aires em 2003, os argentinos doInElement vieram ao palco sob uma intro sem nome emendada a Traitors’Slager, ou a uma tentativa dela, pois a falta de retorno nos “canais três e quatro” do vocalista Charlie Oceans obrigaram-no a interrompê-la para um rápido reparo e recomeçá-la. Mesmo com o início com o pé esquerdo, o cenário parecia promissor e, feitas as saudações protocolares na língua de Shakespeare (por que não em espanhol?), executaramI Will Break YourNeck, lembrando vagamente as linhas de Burton C. Bell no FearFactory.

Misturando inglês com português, o vocalista destacou o respeito pela cidade, pontuou estarem aqui pela primeira vez e mandaram bronca com Haze (InnerBlindness), brutal, cheia de groove e encontrada tanto no début Evolution: Begins In Chaos (05) quanto em Era (Equinox And Solstice In The Zenith Of A Soul) (13). UntilOurLastBreathevidenciou influências de new metal e um irreconhecível e extremamente dançante cover de In The Air 2nite (sim, do genial Phil Collins!) foi o gatilho para uma reflexão na cabeça deste escriba: existe um jeito “correto” de se homenagear um ídolo ao regravarem sua obra? Cópias fiéis ou roupagens ousadas? Os caras arriscaram no “nível Nevermore”, como em The SoundOfSilence (Simon & Garfunkel) eaí você vai perguntar: “Mas ficou boa?”. Questão de preferência e seria melhor você tirar suas próprias conclusões.

A penúltima foi ImmortalOnes e a saideira se encerrou com o guitarrista Franco Betolli acompanhando Charlie em meio à massa, precedida por um interessante discurso do frontman: “É um prazer e uma honra tocar para vocês esta noite. Quero dizer uma coisa a vocês e sinceramente espero que entendam minhas palavras. Sim, é verdade que há uma guerra lá fora, mas não é o tipo de guerra que eles estão tentando nos fazer acreditar. A guerra real é a da dualidade entre amor e ódio”.Ele se aprofundou:

“E deixem-me dizer algo a vocês, irmãos e irmãs: o amor que vocês mantiverem preso é a dor que os matará nesta vida, na próxima e assim por diante. Então dêem tudo que tiverem a cada segundo. Estamos aqui por vocês, existimos para vocês, existimos porque estamos aqui juntos. Estamos nessa juntos e essa é a verdade. Não há um ‘vocês contra mim’ e sim ‘nós contra eles’ e é hora de acordarmos! Lembrem-se disso: FearIs The Virus! Muito obrigado!”.Se musicalmente não agradaram a todos, pelo menos foram embora com o respeito ganho por significativafatia do platéia pela atitude e força do set de trinta e sete minutos.

O massacre do SepticFleshcertamente fez a alegria do povo em bom número pela pista e angariou novos fãs se pela Fabrique havia algum curioso disposto a conhecê-los. Sem brincadeira, Seth pode ser considerado um dos melhores frontmen atuais! Para quem jamais tinha visto os gregos ao vivo, caso deste repórter, demora um pouco até se entender a dinâmica da apresentação, com pausas e discretos sons de ambientação entre as músicas. Efazem parte do espetáculo as fugas dos músicos para trás de dois lindíssimos banners laterais remetendo à capa de ModernPrimitive (22), reproduzida no telão. O propósito da“área de escape” era o de criar inquietação e atiçar a relativa ansiedade pelo regresso, fora servir como localpara hidratação e, porventura, virar um “puxadinho” paraalgum eventual conserto ou afinação nas guitarras de Christos e Psychon.

Exclusivamente quanto à performance, Sethtinha o público na palma da mão, se entregando e fazendo valer a pena as gotas despejadas de seu (e do nosso!) suor eforneceu o títulode cada uma das treze pedradas distribuídas ao longo de oitenta e um minutos, exceto o da primeira, tratando-as com bastante carinho einformando quem as desconhecia. E não foi só isso: o cara agita como poucos,interage e estimula a participação coletiva em brechas precisas no meio das composições, sendo praticamente impossível a galera não retribuir replicando a energia.

Após dispararem uma intro estranha até para o Shazam, a pancadaria a partir de PortraitOf A Headless Man foi precedida por uma checagem: “Estão prontos, meus amigos? Senhoras e senhores, vamos nessa!” e, é claro, todos estavam. De imediato, ficou óbvio: seria noite de volume elevado e ouvindo-se bem o baixo. O padrão de verificação e encorajamento permaneceria intacto antes de e durante PyramidGod eda próxima, deste modo anunciada: “Muito obrigado, São Paulo, Brasil! Somos o SepticFlesh de Atenas, Grécia. Olá, meus amigos! É um grande prazer estarmos aqui esta noite! Muito obrigado pelo grande apoio, meus amigos! Tocaremos uma música de nosso novo álbum, ModernPrimitive, e a música se chama Neuromancer. Vamos lá, meus amigos, que comecem os jogos! Vamos nessa! Estão prontos, meus amigos?”.

The Vampire From Nazareth judiou dos pescoços, seguida de Hierophante Martyr, até o líder vir com uma estória: “A próxima música fala sobre um grande deus. Ela fala sobre um grande titã, na verdade, um grande semi-deus de nosso próprio país, a Grécia. Um grande titã que trouxe aos humanos o fogo e a sabedoria. As igrejas e religiões o chamam de Satã, Lúcifer, o Diabo. Nós do SepticFlesh simplesmente o chamamos de Prometheus. Estão prontos, meus amigos? Um, dois, três! Vamos nessa!” – belíssima e única de Titan (14) no repertório.

A DesertThrone trouxe o play em divulgação de novo à pauta, sucedida pelo arregaço em forma de Communion e o par final do set regular repetiu a alternância de álbuns: The Collector e Persepolis, esta com pedido do frontman por um wallof death. Para o encore, a primeira erasobre outra divindade: “Esta música fala sobre um deus, meus amigos. Um deus de um país que nós do SepticFlesh admiramos, nos inspirou e amamos desde o começo, quando criamos a banda: do Egito. Vocês se lembram do nome do deus, meus amigos? O quê? O quê?? Para os que se lembram da melodia de Anubis, vamos cantá-la juntos, ok, meus amigos? Senhoras e senhores, juntos, vamos nessa!”.

Antes da magnífica saideira, Seth ergueu uma bandeira brasileira com o logo doconjunto ao centro e o nome abaixo e, ao conferir se poderia ficar com ela, descreveu-a com um dos maiores presentes já recebidos por ser “o país de vocês com o nosso símbolo, uma grande honra”. Ele prosseguiu: “A última música desta noite fala sobre arte, meus amigos. No final, lembrem-se: somos todos os mesmos artistas sombrios de sempre. Então fecharemos com uma música de CodexOmega. Ela se chama Dark Art. A propósito, vocês ainda têm energia, meus amigos? Precisaremos dela. São Paulo, estão prontos, meus amigos? Vamos nessa!”.

Enquanto MainTitle, de Steve Jablonsky e parte da trilha sonora de RedNotice (21) ecoava, constatávamos que o quartetotocou “somente” temas dos cinco discosmais recentes, ignorando tudo de MysticPlacesOfDawn (94) a SumerianDaemons (03). Será que enjoaram do material antigo? Mesmo assim, eles facilmente adentraram o seleto rol de melhores de 2023!

 

Setlists

Adverse – 30’

Programado: 20:00 / Real: 20:03

Jaque Albino (vocal), Michel Turim (guitarra), Patrícia Schlithler (baixo) e Juliana Novo (bateria)

Intro: Awakening

01)Hawthorn’sWhispers

02)LightsOfHypocrisy

03) A Few Lies OfYourWhole Light [Crucifixion BR Cover]

04)Arise [Sepultura Cover]

05)Beyond The Mist

 

In Element – 37’

Programado: 20:45 / Real: 20:57

Charlie Oceans (vocal), Franco Betolli (guitarra), David Balboa (baixo) e Walter Damian Lopez (bateria)

Intro: [sem nome]

01)Traitors’Slager

02)I Wll Break YourNeck

03)Haze (InnerBlindness)

04)UntilOurLastBreath

05) In The Air Tonight [Phil Collins Cover]

06)ImmortalOnes

07)FearIs The Virus

 

SepticFlesh – 81’

Programado 22:00 / Real: 22:01

Spiros “Seth Siro Anton” Antoniou(vocal/baixo), ChristosAntonioue Dinos “Psychon” Prassas (guitarras) e Kerim “Krimh” Lechner (bateria)

Intro: ???

01)PortraitOf A Headless Man

02)PyramidGod

03)Neuromancer

04) The Vampire From Nazareth

05)Hierophant

06)Martyr

07)Prometheus

08) A DesertThrone

09)Communion

10) The Collector

11)Persepolis

Encore

12)Anubis

13)DarkArt

Outro: MainTitle [Steve Jablonsky]

 
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