Texto: Vagner Mastropaulo

Os primeiríssimos shows do Dream Theater, banda favorita deste escriba, no Brasil foram nos longínquos 11-12/09/97. Entrando na vida adulta e então sem conhecer direito o grupo que retorna ao país para cinco datas em dezembro (manjar apenas Pull Me Under não valia, né?), o fato de não tê-los visto naquela tour de estréiano país no Clube Atlético Aramaçan (além do Imperator no Rio, três dias depois)e de jamais ter ido ao local gerou uma aura fantástica quanto à lendáriacasa. Enfim, quando surgiu a confirmação da passagem do Sepultura por lá em sua última turnê, havia chegado a hora de cobrir esta lacuna cultural e de finalmente conhecer o recinto. E agora dá para afirmar de modo categórico: há uma magia ali e, em tamanho, talvez somente o Espaço Unimed seja maior em São Paulo!

Pagando ingresso do bolso, sem saber exatamente os horários dos dois shows e tendo que cruzar a cidade numa noite de chuva e frio, infelizmente perdemos praticamente todo o set de YohanKisser. Sendo sincero, entramos emRoundabout, cover do Yes, em tempo de ouvi-lo apresentar o baixista Guto Passos e o baterista William Paiva e de pegar Tadpole, oencerramento autoral. Durante o intervalo, demos um rolê pela área e damos a dica: prepare-se para adquirir itens interessantes nas três idas ao citado Espaço Unimed em setembro!

Marcado para as 23:00, o que são quatro minutos de “atraso” do Sepultura para quem já sabia que não tomariao transporte coletivo para ir embora e dependeria de umuber? Fazendo uso de vinhetas dos álbuns e do início de Refuse/Resist como intro até efetivamente tocarem-na, elainaugurou as incontáveis rodas da noite e não havia jeito: talvez pelo ineditismo de vê-lo ao vivo pela primeira vez, era impossível desviar os olhos do hiper talentosoGreysonNekrutman! O cara, sim, gera um magnetismo, a princípio, e deu outra vida ao clássico de abertura de Chaos A.D. (93). Ao longo do repertório, notamos que o “moleque” fez lá suas firulas emeteu batidas nos bumbos onde não existiam, mas Seu Greyson é bom pra cacete!!!

Despejando hits logo de cara e mantendo a pegada a mil, dispararam Territory, sua sucessora no disco, e dele ainda extraíram Propaganda com dois bumbos insanos – você já parou para pensar que o novato sequer havia nascido quando o full-lengthganhou vida? E quanto a Eloy?Ele fez falta? Sim, bem como Iggor fazia quando Jean Dolabella o substituiu, mas acalme-se: as baquetas estão literalmente em ótimas mãos. E sobre os bumbos, aliás, uma observação: era impressão ou eles fisicamente pareciam estar mais separados do que o convencional? Não sendo músico, este repórter ficou na dúvida – a checarno futuro…

Após Phantom Self, Derrick resolver interagir: “Salve, galera! E aí, tudo bem? Grande ABC, mano! Puta que pariu! Finalmente! Temos muitas músicas para vocês hoje à noite, tocando bastante coisa dos discos do Sepultura. Quantas pessoas aqui têm o disco Roots? Vamos ver se conhecem esta. Ela se chama Dusted”, provavelmente na vibe daquela proposta de registrarem e futuramente lançarem quarenta músicas gravadas em quarenta cidades.Do mesmo trabalho, mandaram a ótima Attitude e, reforçando a tese, o lado b Spit.

Kairos antecipou palavras de Andreas: “Obrigado, Santo André! Mano, que foda que é tocar aqui, por vários motivos! Mas, cara, nasci no ABC, sou de São Bernardo. Eu era sócio do Aramaçan, vim muito a este clube com minha família. Tenho muito boas memórias daqui, mano! Meu, é mais do que um sonho voltar aqui com o Sepultura e celebrar quarenta anos de história junto com vocês, mano! Muito obrigado por terem vindo. O último show da turnê do Chaos A.D., mano, foi aqui! Em 1995,tocar neste palco…E hoje celebrando quarenta anos, cara, com mais um monstro espetacular na bateria fazendo um trabalho maravilhoso: Mr. GreysonNekrutman! Esta música é do Quadra e se chama MeansToAnEnd”.

De Dante XXI, fizeram Convicted In Life e, alternando passado e presente, se saíram comGuardiansOf Earth, de Quadra (20), e False, outra do play de 2006. Indo mais para trás na discografia, puxaram Mind War, de Roorback (03), e a única de Against (98) foi Choke, lá atrás o cartãodevisitas do vocalista no Brasil, junto à faixa-título. Andreas continuou resgatando o passado:

“E aí, Santo André? Certo? Esta aqui é a terra do Headcrushers ABC, Fucker Records, Shock Bar… Alguém lembra disso? Foi lá que conheci os caras do Sepultura, no Shock Bar, da Fucker Records. Conheci Max e IggorCavalera naquelas ruas lá em frente ao Colégio Singular. E foi lá que começou esta história aqui! Meu primeiro disco gravado com o Sepultura foi em 1987, o Schizophrenia. Vamos tocar uma música desse álbum aí. Vamaê? Esta aqui é: Escape To The Void”.

Em outra lembrança marcante de outros tempos, o guitarrista mencionou jams com roadies, familiares e membros do Biohazard e do Pantera ao usarem instrumentos de percussão emKaiowas, desta vez iniciada na companhia de YohanKisser e William Paiva e depois sabe lá Dio de quem mais, tamanha a muvuca organizada no palco. De Arise (91), tocaram DeadEmbryonicCells, perfeita há mais de três décadas!

A pancada BiotechIsĢodzilla sacudiu esqueletos, até a calmaria vir com a sensacional AgonyOfDefeat (uma pena estarmos fadados a escutá-la por tão pouco tempo) e TroopsOfDoommandar tudo pelos ares. Outras velharias impecáveis? Que tal Inner Self e Arise? O encore? Ratamahatta pela metade e, com a senha dada por Derrick em “Sepultura, do Brasil! Um, dois, três, quatro!”, todos sabiam que o arrasa-quarteirão Roots Bloody Roots não deixaria pedra sobre pedra como saideira! Um sutil “Vocês são do caralho! Muito obrigado!”, em português mesmo, do norte-americano mais brasileiro que conhecemos foi a despedida ao som de EasyLover, fruto da parceira entre Philip Bailey, do Earth, Wind &Fire, e Phil Collins como outro chegando a duas horas que voaram!

Voltando ao primeiro parágrafo: oportunidades de rever o grupo capitaneado por John Petrucci não faltarão; de ver outros artistas no Aramaçan também; já de rever Andreas e companhia, ainda será possível pelo menos até o término do giro; mas talvez não role testemunhar o poderio do Sepultura na maior casa de shows de Santo André outra vez… Ou será que eles regressam? Quem viveu, viu! E se você está no clima de assistir a tudo pelo YouTube, uma santa alma fez o upload [https://www.youtube.com/watch?v=a_t9PK5GgYg]. Divirta-se!

Setlists

YohanKisser

01) Pêndulo

02) Amor Ao Corpo

03) Obra

04)MyGuitarWantsToKillYour Mama [The MothersOfInvention]

05)ScuttleButtin’ [Stevie Ray VaughanAnd Double Trouble]

06) A Tábua E O Metro

07)TallBeing

08) The Rivals Are FedAndRested

09) Rosa Fúcsia

10)Roundabout [Yes]

11)Tadpole

Sepultura

Intro: Polícia

01) Refuse/Resist

02)Territory

03) Propaganda

04)Phantom Self

05)Dusted

06)Attitude

07)Spit

08)Kairos

09)MeansToAnEnd

10)Convicted In Life

11)GuardiansOf Earth

12)Mind War

13) False

14)Choke

15) Escape To The Void

16)Kaiowas [Com YohanKisser&William Paiva]

17)DeadEmbryonicCells

18)BiotechIsĢodzilla

19)AgonyOfDefeat

20)TroopsOfDoom

21)Inner Self

22)Arise

Encore

23)Ratamahatta

24) Roots

Outro: EasyLover [Philip BaileyFeat. Phil Collins]