Fotos: Flavio Santiago
Texto: Vagner Mastropaulo
Em grande estilo, Soen gradativamente esquenta o Carioca em noite que foi melhorando!
Este escriba só conseguiu ver a estréia do Soen em São Paulo em março/22 devido ao triste falecimento do baterista Taylor Hawkins, uma vez que a prioridade havia sido dada à performance do grupo de Dave Grohl no Lollapalooza e as datas coincidiam. Pouco além de dois anos, os suecos retornaram ao mesmo Carioca Club e as principais diferenças foram a casa mais cheia e a galera animada apoiando incondicionalmente.
Com três minutos de atraso em relação ao horário divulgado e sem banda de abertura, eram20:03quando o poema Do Not Go GentleIntoThatGood Night, escrito por Dylan Thomas em 1947, ecoava no sistema de som para as entradas de Martín López (bateria), Oleksii “Zlatoyar” Kobel (baixo), Cody Lee Ford (guitarra), LarsEnokÅhlund (guitarra/teclados) e Joel Ekelöf (vocal), nesta ordem. Estranhamente, a atmosfera era morna ao imediatamente detonarem com Sincere, faixa de abertura de Memorial (23), o trabalho em divulgação e, durante sua execução, as breves palavras inaugurais do vocalista foram: “Como vão, Brasil?”.
Encerrada, ele foi sucinto num “Brasil, tudo bem? Quero ver todo mundo pulando nesta próxima, ok? Esta música se chama Martyrs”e o clima começava a esquentar, especialmente no refrão. Enquanto observávamos a decoração consistir do backdrop com uma torre, Zlatoyar puxava Savia com um quê de Tool também em seu clipe e inicialmente sem guitarras e Lars nos bongôs.A ótima Memorial teve introdução com tiros de metralhadora, funcionou como uma marcha e então reparamos num detalhe interessante: a bateria estava à direita do fundo do palco, em vez de centralizada, para sobrar espaço para os teclados. E assim viajávamos até a primeira fala melhor elaborada do frontman:
“Estão se sentindo bem? Sim? Estávamos em Buenos Aires dois dias atrás, um concerto muito bom, mas temos um aqui esta noite. Então vocês devem mostrar a nós agora quem são os líderes da América Latina, ok? Que tal dançarmos? Vocês vão dançar conosco agora porque esta música se chama Lascivious. Vamos lá, Brasil!”, tirando um pouco o pé do acelerador, realmente dançante e fazendo a massa cantar alto do verso “As wereach for thesun” em diante, para ninguém poupar o gogó.
Unbreakable veio com um maravilhoso dedilhado de Lars até explodir e proporcionar belo espetáculo com o público num dueto berrando o título perto de seu final!Ouvindo as pedradas do quinteto, era fácil notar o magníficotimbregrave de Joel, mas o vozeirão se ressaltava em falas diretas como: “Estão se sentindo bem? Estamos nos sentindo bem? Lindo pra cacete! Esta música se chama Deceiver”, com riffs de arrebentar o pescoço e nela o povo despertou de vez, fazendo parecer um mero aperitivo tudo que acontecera antes. Ah, não eram raros os rostos com sorrisos estampados e, a partir dela, o jogo estava definitivamente ganho!
Com o vocalista, Cody e Zlatoyar sentados pouco à frente de Lars e luzes azuis claras parcialmente os iluminando, Ideate mostrou-se intimista e, na seqüência, a sirene marcante indicavaMonarch, petardo um tanto mais cadenciado, mas não menos pesado e cativante. Brincando, Joel checou: “Camarotes, estão por aí? Deixem-me ouvi-los! Bom! Fileiras da frente? Bem… Brasil, estamos nos sentindo bem, me sinto bem. Vamos tocar outra música, algo assim”, cantarolando a melodia de Jinn, única deLykaia (17) no repertórioe batendo em uma hora no relógio.
Subitamente, um pedido dele: “Galera… Certo, quero ver as luzes de seus telefones celulares nesta próxima música. Vamos iluminar a casa aqui, assim! Sim, assim. Camarotes, por favor! Beleza! Esta é Illusion”, solicitação prontamente atendida, em outra que desacelerou o andamento da festa com as lanternas daplatéia ligadas. Grande momento da noite, aplaudida sem terminar e com significativo suporte coletivo especificamente explosivo no refrão,Modesty foi anunciada apenas com seu título, cravando duas seguidas de Imperial (21). A despedida? “Já chegamos à última música… Muito obrigado, Brasil! Muito obrigado, São Paulo! Vocês foram lindos esta noite. A última música se chama Lotus”, concluindo a parte regular do set.
Regressando para o encore, Martín López vestia o uniforme da Seleção Brasileira de Futebol (é sempre bom ressaltar para que serve o manto sagrado!), com seu nome às costas e sem numeração. O frontman sentenciou: “Querem mais, Brasil? Brasil, vamos transformar esta casa num sanatório agora, ok? Quero ver todo mundo pulando! É hora de dispararem suas armas!”, aludindo aAntagonist e, como brasileiro adora um coro, a cantoria foi maciça.
Apresentado pelo líder do conjunto e emocionado, o ex-Opeth pediu a palavra num arrastado sotaque: “Olá! Acho que isso é muito acolhedor, é uma sensação agradável para nós, estarmos aqui com todas estas pessoas e todo este amor. Especialmente para mim, vindo de seu vizinho legal, o Uruguai. É muito bom estar aqui com vocês, é sensacional! Obrigado”. Nós é que te agradecemos, Martín! E fizeram Lunacy, em versão enxuta e não a de oito minutos. As palavras derradeiras de Joel?
“Certo! Temos tempo para mais uma? Sim! Muito obrigado, Brasil! Nós voltaremos, ok? Esta noite foi fantástica! Esta música se chama Violence”, de fato, a saideira e apenas nela caiu a ficha, pois este repórter passara o set inteiro achando que suas feições lembravam as de alguém: Bruno Sutter! Como outros, rolaramUndantag, do Dina Ögon, e Exit Music (For a Film), do Radiohead, fechando a conta em uma hora e quarenta e cinco minutos de umanoite que simplesmente melhorava com o passar do tempo!
Despedindo-se, foi comovente ver o baixista, natural de Kiev, erguer a bandeira de sua Ucrânia e não curta informar que, riscada, Fortress era a décima do setlist de palco, que, na verdade, parecia uma folha padronizada com escolhas pontuais feitas a cada apresentação, até porque a penúltima marcação no sulfite era Jinn/Legacy, reforçando a tese da opção feita em função de cada local. No total, foram cinco de Imperial (21), quatro de Lotus (19) e Memorial (23); duas do début Cognitive (12); e uma de Lykaia (17) – ou seja, preteriram somente Tellurian (14). Faltou algo? Para o gosto deste que vos escreve, Lumerian – como assim deixaram-na de fora? Mesmo assim, sem querer “chover no molhado”, temos outro forte candidato a show do ano!
Setlist
Intro: Do Not Go Gentle Into That Good Night [Poem By Dylan Thomas]
01) Sincere
02) Martyrs
03) Savia
04) Memorial
05) Lascivious
06) Unbreakable
07) Deceiver
08) Ideate
09) Monarch
10) Jinn
11) Illusion
12) Modesty
13) Lotus
Encore
14) Antagonist
15) Lunacy
16) Violence
Outro 1: Undantag [Dina Ögon]
Outro 2: Exit Music (For a Film) [Radiohead]
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