Teenage Fanclub::: 04/09/2025 :: Cine Joia

Postado em 09 de setembro de 2025 @ 14:06

Teenage Fanclub: Nostalgia sem Mofo no Cine Joia

Texto e Fotos: Flavio Santiago

O Cine Joia recebeu, na última quinta-feira (4), uma das bandas mais queridas da safra indie dos anos 90: o Teenage Fanclub. O show, com ingressos esgotados, foi um daqueles encontros que misturam passado e presente em doses equilibradas — sem transformar a nostalgia em peça de museu.

O grupo escocês, que já foi chamado de “a melhor banda do mundo” por Kurt Cobain, subiu ao palco como quem reencontra velhos amigos depois de décadas. E, de certa forma, era isso mesmo. O público de São Paulo esperava há anos esse reencontro.

A abertura com “Home”, faixa do disco Endless Arcade (2021), foi um cartão de visitas claro: o Teenage Fanclub não vive apenas do repertório clássico. Em seguida, “About You” e “Alcoholiday” arrancaram suspiros da plateia, que cantava em coro, como se cada verso fosse uma página perdida da juventude.

O curioso é que, embora as canções carreguem o DNA dos anos 90, elas não soaram datadas. Pelo contrário: havia uma frescura, um vigor quase juvenil, como se o tempo tivesse sido generoso com a banda. A alternância entre clássicos como “I Don’t Want Control of You” e novidades como “Everything Is Falling Apart” reforçou essa sensação de continuidade natural.

O Teenage Fanclub nunca foi de pirotecnia. No Cine Joia, confirmaram isso mais uma vez. São guitarras limpas, melodias cristalinas e vocais doces que se sobrepõem como camadas de um bolo bem assado. Nada de solos intermináveis, nada de egotrip: apenas canções bem construídas, com a simplicidade de quem sabe que menos é mais.

Quando tocaram “Neil Jung” e “The Concept”, o público já parecia anestesiado em transe coletivo. Era aquele tipo de momento raro em que a melodia se confunde com a memória: não dá para saber se o arrepio vem da música ou do tempo que ela carrega consigo.

O encore trouxe pérolas como “God Knows It’s True”, “Mellow Doubt” e o hino “Everything Flows”, que encerrou a noite como uma espécie de epitáfio otimista: tudo flui, o tempo passa, mas certas músicas continuam imbatíveis.

Mais do que um show, o Teenage Fanclub ofereceu uma lição de longevidade musical. A nostalgia esteve presente em cada acorde, mas nunca como peça de museu. Foi uma nostalgia viva, que pulsa, que não precisa de maquiagem.

O Cine Joia foi palco de uma noite em que se confirmou o óbvio: o Teenage Fanclub pode ter perdido espaço no radar das novas gerações, mas ainda sabe entregar melodias que permanecem como tatuagens invisíveis na memória de quem cresceu com elas.