A banda Terminal Guadalupe decidiu reunir a formação clássica para comemorar o aniversário do primeiro show, realizado há 20 anos, em Curitiba. A apresentação está marcada para 13 de maio, no bar Wonka. Allan Yokohama, Dary Jr., Lucas Borba e Rubens K não tocam juntos desde 2008. Para o lugar do baterista Fabiano Ferronato, que mora na Alemanha e não pôde vir, a banda escolheu Ivan Rodrigues (Magaivers, Mordida). “A ideia surgiu quando o Allan disse que voltaria ao país depois de cinco anos”, conta Dary (voz e violão). “As férias também são para rever os amigos”, completa Allan (guitarra e voz), que vive em Portugal. Os músicos prometem tocar canções dos quatro álbuns da banda: “Burocracia Romântica – Trilha Sonora Original” (2003), “Vc Vai Perder o Chão” (2005), “A Marcha dos Invisíveis” (2007) e “Agora e Sempre” (2022). Músicas como “Lorena Foi Embora”, “Esquimó por Acidente”, “Pernambuco Chorou” e “Holidays in Amityville”, a mais recente, estarão no repertório do show. “É uma grande oportunidade para ouvir, ao vivo, músicas que levavam as nossas verdades e se confundiam com as vidas de muitos jovens na primeira década do século, além de novas canções”, observa Dary. As novidades são do último álbum, lançado no ano passado, que interrompeu um hiato nas atividades de 2009 até 2020, quando Allan enviou mensagem para Dary com a proposta de “ressuscitar” o Terminal Guadalupe para gravar um disco durante a pandemia de covid-19. O resultado foi “Agora e Sempre”, pré-produzido e gravado remotamente em quatro países: no Brasil, Dary; em Portugal, Allan e Marcelo Caldas (baixo); na Alemanha, Fabiano. Do Uruguai, a participação foi do cantautor Dany López. ConvidadosAlém de Lucas (guitarra e teclados) e Rubens (baixo), Allan e Dary convidaram Paulo de Nadal, líder da banda Mordida, para mostrar seu lado cantautor na abertura; já Leandro Delmônico e Igor Fillus, da banda Charme Chulo, tocam junto com o Terminal Guadalupe em uma canção. SERVIÇO |
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“Agora e Sempre”, o disco |
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“Agora e Sempre” (Loop Discos, 2022) é o novo álbum da banda Terminal Guadalupe, mas parece um retrato em branco e preto do Brasil: denso, sombrio, algo melancólico, mas com um fio de esperança. No país que definha sem governo em meio à maior crise sanitária, política e econômica de sua história, o disco é um documento. Rima resiliência com resistência. Ouça ‘Agora e Sempre’ aqui: https://tratore.ffm.to/agoraesempre. Já a faixa ‘Exílio’ ganhou um democlipe, com cenas de bastidores de gravação. Confira aqui: https://youtu.be/v4xyTyADp8U. O álbum chegou às plataformas digitais em 5 de setembro, data do 53º aniversário do Ato Institucional nº 13, o AI-13. Foi o mecanismo pelo qual a ditadura militar endureceu o regime e passou a expulsar “legalmente” qualquer cidadão tido como “inconveniente”. É o quarto disco de estúdio do Terminal Guadalupe, o primeiro desde “A Marcha dos Invisíveis” (Independente, 2007), aclamado pela crítica e nos festivais da época. A meio mundo de distância, os integrantes do Terminal Guadalupe juntaram sons sintéticos com timbres acústicos processados, em mergulho nas águas profundas da música eletrônica dos anos 1970, com subidas pontuais à superfície das paradas das playlists atuais, onde o ar fresco deu um banho de loja no som da banda, outrora identificada pelas guitarras. Em Portugal, o paulistano Allan Yokohama (guitarra, violão, programações e voz) esculpia os arranjos, entre ritmos latinos, batidas programadas e violões distorcidos. Na Alemanha, o curitibano Fabiano Ferronato (bateria) criava as fundações das músicas novas, com vigor, pulsação e silêncios. No Brasil, o pantaneiro Dary Esteves Jr. (voz) modulava o discurso sem renunciar a canções. O grupo (de WhatsApp, inicialmente) só ficou completo com a chegada do carioca Marcelo Caldas (baixo), da banda portuguesa The Invisible Age. Ele era velho conhecido da estrada: foi integrante do grupo glam Cabaret, que dividiu palcos com o Terminal Guadalupe em 2006 e 2007. Foi Marcelo quem também trouxe o produtor Iuri Freiberger. Baterista da cultuada banda Tom Bloch, Freiberger lapidou álbuns de artistas novos e experientes, de Selvagens à Procura de Lei a Frank Jorge e Kassin. Ele e Yokohama dividiram a produção de “Agora e Sempre”, entre incontáveis trocas de mensagens e áudios e algumas poucas idas a Lisboa, onde bateria, baixo, guitarras, violões, sintetizadores e a voz de Allan foram gravados. Dary registrou sua voz em Curitiba. O novo álbum traz canções em português, inglês, espanhol e italiano, fruto do esforço da banda para se comunicar com novos e diferentes públicos. Em “Ahora Y Siempre”, por exemplo, o convidado é o cantor e compositor uruguaio Dany López. Em “Privè”, a participação foi do cantor e compositor carioca Franco Cava, muito querido na Itália. “As músicas transitam por universos diferentes, mas sempre chamam as coisas pelo nome, com a crueza de sentimentos que a realidade impõe. Isso torna o disco muito pesado ao mesmo tempo em que deixa claro: desistir não é uma opção. Buscamos forças. E recorremos a ironia, crítica e esperança para equilibrar as emoções”, teoriza Dary. Sobre bases de cúmbia, flamenco, kraut-rock, sessentismo lo-fi e pop contemporâneo se assentam as letras de “Agora e Sempre”, que resgata um discurso histórico de Ulysses Guimarães: “Amaldiçoamos a tirania onde quer que ela desgrace homens e nações, principalmente na América Latina”. É esta banda que diz ao país: “Você ainda vai nos redimir”. Terminal GuadalupeAllan Yokohama – guitarra, violão, programações e voz ParticipaçõesDany López – voz e piano em “Ahora Y Siempre” CapaPietro Domiciano |
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