Texto: Daniel Faccini
Fotos: Leandro Almeida
Na noite quente de domingo, 31 de agosto de 2025, a atmosfera gótica do Fabrique Club, na Barra Funda, foi invadida pelos vampiros de Helsinque. Após uma passagem conturbada pelo festival Summer Breeze em 2024, marcada por falhas técnicas e frustração do público, o The 69 Eyes retornou ao Brasil com o espírito de um encontro de reconciliação — desta vez, com estrutura afinada e aura sombria no ponto (produção a cargo da NDP Productions) estava pronto
Antes da banda principal, o público foi preparado com duas atrações nacionais que respiram o mesmo universo gótico. Primeiro subiu ao palco os cariocas do Drama, com sua mistura crua de new metal e sintetizadores, especialmente em singles como “Boneca de Pano”, “O Monstro” e “Canção dos Derrotados”.
Em seguida, os paulistanos do When I Die desembarcaram numa pegada mais densa — darkwave com eletrônica — incendiando com “Pills” e “Spirit of War” Esse aquecimento foi fundamental para preparar os ânimos antes da fúria gótica que estava por vir.
O relógio marcava 19h45 quando os acordes sombrios começaram a ecoar. O setlist seguiu uma sequência tensa e envolvente:
A força gótica já pulsava forte em “Devils” e “Feel Berlin”, com guitarras e vocais graves construindo uma atmosfera fria e dramática. “Perfect Skin” misturou melodia e peso, preparando o terreno emocional para a sofisticada “Betty Blue”. A surpresa ficou por conta do cover “Gotta Rock”, que trouxe uma energia crua e inesperada — injetando adrenalina e diversidade ao set.
Na sequência, “Still Waters Run Deep” e “Drive” — esta última, do álbum mais recente Death of Darkness (2023) — trouxeram uma fusão sonora refinada: guitarras viajantes, batidas marcantes e aquele toque gótico embebido em rockabilly glamuroso “Hevioso” e “The Chair” mantiveram o pulso, enquanto “Cheyenna” e “Never Say Die” acenderam a brutalidade adrenalínica. “Gothic Girl” destacou-se como um momento de comunhão emocional com a plateia, com sua melodia envolvente. O ápice do show veio com “Wasting the Dawn” e “I Love the Darkness in You”, que empilharam nostalgia, intensidade e sentimento. E “Brandon Lee” — um hino — encerrou o set principal com reverência e intensidade contagiante.
No encore, houve um momento de pura adrenalina: ao som de Ramones com “I Just Want to Have Something to Do”, e com Supla presente, a noite ganhou humor e irreverência. Em seguida, a elegância sombria de “Dance d’Amour” e o fechamento épico com “Lost Boys” deram sentido conclusivo a esse ritual gótico-rock. Um final magistral e reflexivo.
O show durou aproximadamente 1h15 — curto, mas intenso e coeso, deixando uma marca profunda. A produção acertou em criar uma experiência envolvente; o público vibrou, se emocionou e saiu com aquela sensação de espetáculo completo. Uma fã no Instagram até resumiu bem: “Foi meu terceiro show deles e o melhor até então, setlist perfeito, performance, o público super animado, 10/10!”
O retorno do The 69 Eyes ao Brasil saiu do campo da expectativa e entrou para o inegável: um espetáculo gótico, emocional e urgentemente humano. Entre hinos clássicos, surpresas e covers carregados de atitude, o show foi uma celebração do que eles fazem de melhor — goth ’n’ roll em sua forma visceral. O Fabrique Club — já consagrado pela atmosfera — desta vez recebeu um ritual verdadeiro, e o público correspondeu com intensidade, agradecimento e fôlego.
SETLIST
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Devils
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Feel Berlin
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Perfect Skin
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Betty Blue
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Gotta Rock (cover da Boycott)
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Still Waters Run Deep
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Drive
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Hevioso
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The Chair
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Cheyenna
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Never Say Die
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Gothic Girl
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Wasting the Dawn
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I Love the Darkness in You
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Brandon Lee
Encore:
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I Just Want to Have Something to Do (cover dos Ramones; com participação de Supla!)
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Dance d’Amour
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Lost Boys