Texto: Vagner Mastropaulo
Fotos: Flavio Santiago
Grupos de sonoridade e origem distintas cativam públicos também diferentes
A mais recente vinda do The Cult à cidade havia sido na primeira das quatro datas da São Paulo Week em setembro/17 sendo a única atração a integrar o festival no Estádio do Palmeiras sem ter se apresentado também no Rock In Rio no mesmo final de mês. Logo, havia elevada dose de expectativa quanto à performance do quarteto capitaneado pelo vocalista Ian Astbury, sempre acompanhado de seu eterno parceiro, o guitarrista Billy Duffy. Porém, tudo em seu tempo…
Chegando às dependências perto do encerramento do horário de credenciamento, não conseguimos acompanhar a atuação da Undo, de André Frateschi, responsável pelo “esquenta” ao lado do bar externo do Vibra São Paulo, exatamente onde “antigamente” havia a fonte. Com apenas um single disponível no Spotify quando elaborávamos esta resenha, Coração Selvagem constava no setlist de palco como a penúltima de onze músicas e, em respeito ao grupo, deixamos abaixo uma fotografia do repertório feita de improviso por este repórter.
Uma vez instalados na pista comum e encerrada a playlist da espera, vieram os anúncios da casa e não ficou claro se Eighties ainda era fruto da discotecagem ou, de fato, uma intro. Fato foi que as luzes se apagaram pontualmente às 20:00, conforme prometido, ainda com a faixa do Killing Joke em andamento, para a entrada do Baroness de John Baizley (vocal e guitarra), Gina Gleason (guitarra), Nick Jost (baixo) e Sebastian Thomson (bateria), que conjuntamente mandaram brasa ao som de Last Word, seguida por Under The Wheel, mais densa e arrastada até encorpar e explodir.
Como ambas são de Stone (23) e sua capa é colorida, a opção foi por iluminação rosa para as duas. E se você considera besteira destacarmos as luzes projetadas no palco, os títulos dos álbuns de onde o grupo de Savannah, Geórgia, extrairia as composições seriam os responsáveis pela seleção das cores. Entre as duas, ocorreu a primeira, porém curta, ambientação separando faixas, recurso usado magistralmente na passagempela Fabrique em junho/19.
Em relação à estréia do conjunto pelo Brasil, era evidente a diferença em vê-los num ambiente mais amplo e como opening act, sem público cativo e ensandecido cantando suas músicas a plenos pulmões, conforme resenhado anteriormenteaqui no site [https://onstage.mus.br/website/baroness-230619-fabrique-club-sp]. Desta vez a tarefa era mais complicada e certamente arrebatou novos fãs, mesmo com um ou outro perdido no rolê optando por bater papo ao invés de tentar apreciar um som novo. Vai de cada um, porém este escriba jamais entenderá quem desperdiça oportunidades de ampliar seu espectro musical com uma banda tocando diante de nossos olhos…
E sabe o lance das cores? De Blue Record (09), A Horse Called Golgotha trouxe luzes azuladas, enquanto, retirada de Yellow & Green (12) e focando em tons amarelos, a conclusão da ótima March To The Sea trouxe a primeira interação do frontman: “Como estão, São Paulo? É muito bom estar aqui! Somos o Baroness e obrigado por nos receberem de volta. Esta é nossa segunda vez aqui na cidade de vocês e nos sentimos extremamente afortunados por estarmos aqui diante de vocês esta noite. Queremos agradecer ao The Cult por nos receberem, mas realmente queremos agradecer a vocês por estarem aqui conosco assim cedo esta noite. Muito obrigado! Se souberem a letra desta próxima música, por favor, cantem com a gente”.
E havia sentido no pedido, por se tratar da sensacional Shock Me, maior clássico do quarteto e sob iluminação roxa, pois ela saiu em Purple (15). Olhando em volta, este repórter constatou ter sido o único momento do set em que vozes esparsas berraram algo, no caso, seu título, infelizmente explicitando que a imensa maioria da galera, alheia, sequer fazia idéia do que assistia ou até perdia, caso dos que optaram por permanecer no lobby…
Do mesmo álbum, mandaram Chlorine & Wine, seguida de Swollen And Halo, voltando ao Blue Record e com momentos pesados. Ciente de onde estava e de seu papel, John provocou, em tom de brincadeira: “Vocês soam terrivelmente quietos entre as músicas. Vamos lá, São Paulo! Façam algum barulho!”. Sob luzes douradas, Tourniquet parecia incorporar um quê de balada e houve quem ligasse as lanternas dos celulares em apoio no começo antes de a música de Gold & Grey explodir. Em renovada comunicação, John se declarou:
“Mais uma vez, São Paulo, obrigado! Obrigado por nos receberem aqui. Mais uma vez, obrigado ao The Cult por nos trazerem! Como disse antes, esta é apenas nossa segunda vez aqui no Brasil e, acreditem em mim quando digo isto para vocês: para os que nem conhecem nossa banda, tenho certeza que vocês fazem isso com as bandas que amam, mas quando vocês postam ‘Venham ao Brasil’, ouvimos cada vez. Este é um dos melhores países do mundo para se tocar música. Então, obrigado! Obrigado, Brasil! Obrigado, São Paulo, por nos receberem. E obrigado por nos darem a oportunidade de tocarmos música. Temos mais duas e, por favor, sintam-se à vontade para enlouquecerem!”.
Rumando ao final, fizeram Isak, única do début Red Album (07), obviamente com luzes vermelhas, e a saideira foi a ótimaTake My Bones Away. Dez músicas ao longo de cinqüenta e sete minutos e só houve tempo para um sucinto: “Muito obrigado, São Paulo! Somos o Baroness!” na despedida. Showzaço, mas apenas para quem já os conhecia ou teve boa vontade com os caras e demonstrou curiosidade em assisti-los. Fazer o quê?
Com o The Cult anunciado para as 21:30, dezesseis minutos de atraso geraram impaciência de alguns, chegando ao ponto de haver quem vaiasse, talvez por ser um domingão e já projetando a semana inteira de trabalho pré-Carnaval que viria adiante. Bastou soltarem Ride Of The Valkyries, de Richard Wagner, como intro para as reclamações se dissiparem enquanto notávamos a ausência até de um simples backdrop como decoração, também inexistentepara a abertura.
In The Clouds efetivamente abriu os trabalhos, a princípio com o som do vocal um tanto baixo e o baixo de Charlie Jones segurando a onda.Pesada, mesmo sem a ajuda de uma segunda guitarra, e contando “apenas” com Billy Duffy nas seis cordas, a faixa, inédita na discografia até sair na coletânea High Octane Cult: Ultimate Collection 1984-1995 (96), mostrou o frontman cantando bem, obrigado! E se você mentalmente ousou cogitar: “De cara, tudo bem! E no final?”, saiba que,sim e, com o perdão do spoiler, elecumpriu a missão com competência por toda a noite, detonandono timbre grave ao qual você está tão familiarizado.
Em posse de seu tradicional pandeiro e usando uma bandana, brotouum divertido comentário ao lado deste que vos escreve: “É o Ian ou o Mike Muir?Olha lá!”. Rindo, um amigo emendou: “O que você esperava? Até índio ele já quis ser na fase do Ceremony”, full-length de 1991.Rise foi a segunda, sucedida por Wild Flower, como não poderia deixar de ser, reconhecida de prontidão por seu riff tão característico.
Um breve “Obrigado!” precedeu Star, praticamente emendada a TheWitch, acentuada no baixo e outra de fora dos discos regulares e presente tanto na trilha sonora de Cool World (92) quanto em outra coletânea, desta vez em Pure Cult: For Rockers, Ravers, Lovers And Sinners (93). Em uma de suas interações mais extensas, aqui sem qualquer tipo de ironia de nossa parte, Ian atiçou a massa: “Parece a porra do Kansas. Aqui é São Paulo? Vamos nessa!”, antes de Mirror, faixa que inaugura Under The Midnight Sun (22), mais recente trabalho de estúdio do conjunto de Bradford, Inglaterra.
Com peso e bem aceita, War (The Process) foi a próxima, até rolar Edie (Ciao Baby), uma das mais esperadas da noite, a princípio com Billy Duffy ao violão e, para surpresa de um total de zero pessoas, com um mar de celulares erguidos, padrão mantido na saborosa e até dançante Revolution, nona do set, sem sabermos no momento que se superava metade das canções.
Em versão um tanto estendida se comparada à original encontrada em Sonic Temple (89), Sweet Soul Sister foi puxada de modo intimista, ainda que com a base pré-gravada de órgão e com título apoiadíssimo pela massa ao cantá-lo. Nela, impressionava a precisão de John Tempesta, por aqui contando com fiel base de fãs desde sua destacada performance com o White Zombie no longínquo Hollywood Rock de 1996.
Neste ponto do repertório na véspera, no Rio de Janeiro, aconteceu a única diferença com relaçãoa São Paulo e um importante lembrete foi escrito no setlist de palco: “SkipLucifer”. Em renovada “alongada” interação, dentro de seus padrões, Ian mergulhou no passado: “Obrigado! Esta música meio que… É uma música do Death Cult, mas que nunca aconteceu num álbum”, tratando-se de Resurrection Joe, single de 1984 e depois incluída como bonus track em prensagens posteriores em CDs do début Dreamtime, originalmente lançado no mesmo ano.
Ao observarmos pais na casa dos cinqüenta anos orgulhosamente acompanhando os filhos, caía a ficha para este redator: sairia decepcionado da casa quem esperavapor efusiva movimentação de palco…Afinal de contas, trata-se de uma banda que para cá vem desde o show no Ginásio do Ibirapuera em dezembro/91 e sua energia e entrega permanecem intactas, bem como a devoção de quem lotava as pistas, porém, com cada membro em seu próprio território.Oriundos de uma época em que artistas cantavam, tocavam e sentavam o pau ao vivo, sem a preocupação em divagar a respeito das músicas, sobre o que elas se tratavam ou onde todos estavam quando pintou a inspiração para compô-las, a longevidade também se encarregava de explicar as curtas falas.
Você aceita um hit? Que tal a maravilhosa Rain? Completando uma hora de espetáculo, fizeram Spiritwalker e, anunciando o encerramento da parte regular do set, Ian foi sucinto: “Obrigado! Mais uma!”, a arrasa-quarteirão Fire Woman. Na boa? Era também por ela que significativa parcela dos presentes deixara o conforto do lar e ouvir a cantoria coletiva de “Fireeeeee!” acompanhar o quarteto pagou o ingresso!
Regressando para o encore, Brother Wolf, Sister Moon trouxe belo solo de guitarra, embora tenha sido um tanto cadenciada em excesso para inaugurá-lo, ainda que bela. Talvez ela tenha aí sido colocada para a subseqüente empolgação na identificação de SheSellsSanctuary se tornar obrigatória – padrão elevado e mantido na saideira LoveRemovalMachine, encerrando a festa num tremendo petardo!
Educado, o vocalista apresentou seus companheiros e aguardou o público ovacioná-lo aos gritos de “Ian! Ian! Ian! Ian!”. E despediu-se de modo sincero: “Uau! Vocês são tão lindos! Obrigado por terem vindo esta noite! Muito obrigado! Boa noite!”. Como outro, usaram La Ballata Di Sacco E Vanzetti, composta por Ennio Morricone e na voz de Joan Baez, da trilha sonora de Sacco E Vanzetti (71), inteirando exata uma hora e meia de um senhor show, certeiro para quem acompanha o The Cult desde sua gênese, mas também para a fatia renovada de público que certamente conferia o potencial do grupo ao vivo pela primeiríssima vez!
Agora, será que só os veremos outra vez dentro de longos sete anos? E quanto ao Baroness? Levará mais cinco anos para o retorno? Que voltem logo, pois são bandas “cultuadas”, com o perdão do trocadilho, cada uma ao seu estilo.
Setlists
Baroness (20:00 – 20:57) – 57’
John Baizley (vocal e guitarra), Gina Gleason (guitarra), Nick Jost (baixo) e Sebastian Thomson (bateria)
01) Last Word
02) Under The Wheel
03) A Horse Called Golgotha
04) March To The Sea
05) Shock Me
06) Chlorine & Wine
07) Swollen And Halo
08) Tourniquet
09) Isak
10) Take My Bones Away
The Cult (21:46–23:16) – 1h30’
Ian Astbury (vocal), Billy Duffy (guitarra), Charlie Jones (baixo), John Tempesta (bateria)
Intro: Ride Of The Valkyries [Richard Wagner]
01) In The Clouds
02) Rise
03) Wild Flower
04) Star
05) The Witch
06) Mirror
07) War (The Process)
08) Edie (Ciao Baby)
09) Revolution
10) Sweet Soul Sister
11) Resurrection Joe
12) Rain
13) Spiritwalker
14) Fire Woman
Encore
15) Brother Wolf, Sister Moon
16) She Sells Sanctuary
17) Love Removal Machine
Outro: La Ballata Di Sacco E Vanzetti [Joan Baez]
The Cult / Baroness – Vibra São Paulo – 23/02/25
Postado em 02 de março de 2025 @ 20:45







Texto: Vagner Mastropaulo
Uma vez instalados na pista comum e encerrada a playlist da espera, vieram os anúncios da casa e não ficou claro se Eighties ainda era fruto da discotecagem ou, de fato, uma intro. Fato foi que as luzes se apagaram pontualmente às 20:00, conforme prometido, ainda com a faixa do Killing Joke em andamento, para a entrada do Baroness de John Baizley (vocal e guitarra), Gina Gleason (guitarra), Nick Jost (baixo) e Sebastian Thomson (bateria), que conjuntamente mandaram brasa ao som de Last Word, seguida por Under The Wheel, mais densa e arrastada até encorpar e explodir.
Como ambas são de Stone (23) e sua capa é colorida, a opção foi por iluminação rosa para as duas. E se você considera besteira destacarmos as luzes projetadas no palco, os títulos dos álbuns de onde o grupo de Savannah, Geórgia, extrairia as composições seriam os responsáveis pela seleção das cores. Entre as duas, ocorreu a primeira, porém curta, ambientação separando faixas, recurso usado magistralmente na passagempela Fabrique em junho/19.
Em relação à estréia do conjunto pelo Brasil, era evidente a diferença em vê-los num ambiente mais amplo e como opening act, sem público cativo e ensandecido cantando suas músicas a plenos pulmões, conforme resenhado anteriormenteaqui no site [https://onstage.mus.br/website/baroness-230619-fabrique-club-sp]. Desta vez a tarefa era mais complicada e certamente arrebatou novos fãs, mesmo com um ou outro perdido no rolê optando por bater papo ao invés de tentar apreciar um som novo. Vai de cada um, porém este escriba jamais entenderá quem desperdiça oportunidades de ampliar seu espectro musical com uma banda tocando diante de nossos olhos…
E sabe o lance das cores? De Blue Record (09), A Horse Called Golgotha trouxe luzes azuladas, enquanto, retirada de Yellow & Green (12) e focando em tons amarelos, a conclusão da ótima March To The Sea trouxe a primeira interação do frontman: “Como estão, São Paulo? É muito bom estar aqui! Somos o Baroness e obrigado por nos receberem de volta. Esta é nossa segunda vez aqui na cidade de vocês e nos sentimos extremamente afortunados por estarmos aqui diante de vocês esta noite. Queremos agradecer ao The Cult por nos receberem, mas realmente queremos agradecer a vocês por estarem aqui conosco assim cedo esta noite. Muito obrigado! Se souberem a letra desta próxima música, por favor, cantem com a gente”.
E havia sentido no pedido, por se tratar da sensacional Shock Me, maior clássico do quarteto e sob iluminação roxa, pois ela saiu em Purple (15). Olhando em volta, este repórter constatou ter sido o único momento do set em que vozes esparsas berraram algo, no caso, seu título, infelizmente explicitando que a imensa maioria da galera, alheia, sequer fazia idéia do que assistia ou até perdia, caso dos que optaram por permanecer no lobby…
Do mesmo álbum, mandaram Chlorine & Wine, seguida de Swollen And Halo, voltando ao Blue Record e com momentos pesados. Ciente de onde estava e de seu papel, John provocou, em tom de brincadeira: “Vocês soam terrivelmente quietos entre as músicas. Vamos lá, São Paulo! Façam algum barulho!”. Sob luzes douradas, Tourniquet parecia incorporar um quê de balada e houve quem ligasse as lanternas dos celulares em apoio no começo antes de a música de Gold & Grey explodir. Em renovada comunicação, John se declarou:
“Mais uma vez, São Paulo, obrigado! Obrigado por nos receberem aqui. Mais uma vez, obrigado ao The Cult por nos trazerem! Como disse antes, esta é apenas nossa segunda vez aqui no Brasil e, acreditem em mim quando digo isto para vocês: para os que nem conhecem nossa banda, tenho certeza que vocês fazem isso com as bandas que amam, mas quando vocês postam ‘Venham ao Brasil’, ouvimos cada vez. Este é um dos melhores países do mundo para se tocar música. Então, obrigado! Obrigado, Brasil! Obrigado, São Paulo, por nos receberem. E obrigado por nos darem a oportunidade de tocarmos música. Temos mais duas e, por favor, sintam-se à vontade para enlouquecerem!”.
Rumando ao final, fizeram Isak, única do début Red Album (07), obviamente com luzes vermelhas, e a saideira foi a ótimaTake My Bones Away. Dez músicas ao longo de cinqüenta e sete minutos e só houve tempo para um sucinto: “Muito obrigado, São Paulo! Somos o Baroness!” na despedida. Showzaço, mas apenas para quem já os conhecia ou teve boa vontade com os caras e demonstrou curiosidade em assisti-los. Fazer o quê?
In The Clouds efetivamente abriu os trabalhos, a princípio com o som do vocal um tanto baixo e o baixo de Charlie Jones segurando a onda.Pesada, mesmo sem a ajuda de uma segunda guitarra, e contando “apenas” com Billy Duffy nas seis cordas, a faixa, inédita na discografia até sair na coletânea High Octane Cult: Ultimate Collection 1984-1995 (96), mostrou o frontman cantando bem, obrigado! E se você mentalmente ousou cogitar: “De cara, tudo bem! E no final?”, saiba que,sim e, com o perdão do spoiler, elecumpriu a missão com competência por toda a noite, detonandono timbre grave ao qual você está tão familiarizado.
Em posse de seu tradicional pandeiro e usando uma bandana, brotouum divertido comentário ao lado deste que vos escreve: “É o Ian ou o Mike Muir?Olha lá!”. Rindo, um amigo emendou: “O que você esperava? Até índio ele já quis ser na fase do Ceremony”, full-length de 1991.Rise foi a segunda, sucedida por Wild Flower, como não poderia deixar de ser, reconhecida de prontidão por seu riff tão característico.
Um breve “Obrigado!” precedeu Star, praticamente emendada a TheWitch, acentuada no baixo e outra de fora dos discos regulares e presente tanto na trilha sonora de Cool World (92) quanto em outra coletânea, desta vez em Pure Cult: For Rockers, Ravers, Lovers And Sinners (93). Em uma de suas interações mais extensas, aqui sem qualquer tipo de ironia de nossa parte, Ian atiçou a massa: “Parece a porra do Kansas. Aqui é São Paulo? Vamos nessa!”, antes de Mirror, faixa que inaugura Under The Midnight Sun (22), mais recente trabalho de estúdio do conjunto de Bradford, Inglaterra.
Com peso e bem aceita, War (The Process) foi a próxima, até rolar Edie (Ciao Baby), uma das mais esperadas da noite, a princípio com Billy Duffy ao violão e, para surpresa de um total de zero pessoas, com um mar de celulares erguidos, padrão mantido na saborosa e até dançante Revolution, nona do set, sem sabermos no momento que se superava metade das canções.
Neste ponto do repertório na véspera, no Rio de Janeiro, aconteceu a única diferença com relaçãoa São Paulo e um importante lembrete foi escrito no setlist de palco: “SkipLucifer”. Em renovada “alongada” interação, dentro de seus padrões, Ian mergulhou no passado: “Obrigado! Esta música meio que… É uma música do Death Cult, mas que nunca aconteceu num álbum”, tratando-se de Resurrection Joe, single de 1984 e depois incluída como bonus track em prensagens posteriores em CDs do début Dreamtime, originalmente lançado no mesmo ano.
Ao observarmos pais na casa dos cinqüenta anos orgulhosamente acompanhando os filhos, caía a ficha para este redator: sairia decepcionado da casa quem esperavapor efusiva movimentação de palco…Afinal de contas, trata-se de uma banda que para cá vem desde o show no Ginásio do Ibirapuera em dezembro/91 e sua energia e entrega permanecem intactas, bem como a devoção de quem lotava as pistas, porém, com cada membro em seu próprio território.Oriundos de uma época em que artistas cantavam, tocavam e sentavam o pau ao vivo, sem a preocupação em divagar a respeito das músicas, sobre o que elas se tratavam ou onde todos estavam quando pintou a inspiração para compô-las, a longevidade também se encarregava de explicar as curtas falas.
Educado, o vocalista apresentou seus companheiros e aguardou o público ovacioná-lo aos gritos de “Ian! Ian! Ian! Ian!”. E despediu-se de modo sincero: “Uau! Vocês são tão lindos! Obrigado por terem vindo esta noite! Muito obrigado! Boa noite!”. Como outro, usaram La Ballata Di Sacco E Vanzetti, composta por Ennio Morricone e na voz de Joan Baez, da trilha sonora de Sacco E Vanzetti (71), inteirando exata uma hora e meia de um senhor show, certeiro para quem acompanha o The Cult desde sua gênese, mas também para a fatia renovada de público que certamente conferia o potencial do grupo ao vivo pela primeiríssima vez!
Agora, será que só os veremos outra vez dentro de longos sete anos? E quanto ao Baroness? Levará mais cinco anos para o retorno? Que voltem logo, pois são bandas “cultuadas”, com o perdão do trocadilho, cada uma ao seu estilo.

