Texto: Vagner Mastropaulo

Fotos : Flavio Santiago

Agradecimentos: Dark Dimensions / Johnny Z

Sexteto alemão fecha rock/metal de 2022 com chave de ouro!

Talvez os artistas nunca tenham dependido tanto do “ao vivo” e da venda de merchandise para sobreviverem. Em paralelo, produtores têm sido criativos ao descobrirem picos alternativos (Stones Music Bar, Terra SP) e/ou marcarem shows durante a semana, dois fatores a baratear o aluguel, evitando majorarem os ingressos. Citando dois exemplos recentes, o Animals As Leaders passou pelo Carioca Club na segunda-feira da vitória do Brasil sobre a Coréia do Sul em plena Copa do Catar e o Gaerea esteve no Legends Music Bar na quarta-feira de 30/11. Mas agendarem algo entre o Natal e o Ano Novo, outra vez numa quarta, este escriba não tem lembranças de ter visto…

Anunciado para as 21:00 sem banda de abertura, o atraso de nove aceitáveis minutos em nada afetou a recepção ao The Ocean deRobin Staps e David Ramis Åhfeldt (guitarras), MattiasHägerstrand (baixo), Peter Voigtmann (teclados) e Paul Seidel (bateria), mandando Triassic de cara, com três breves interações do vocalistaLoïc Rossetti, precisamente em seu começo, meio e final: ”Boa noite, São Paulo!” (em português mesmo); “Façam um pouco de barulho, São Paulo!”; e “Obrigado”. Simpático e buscando contato visual e físico, ele apertava as mãos dos fãs no gargarejo, alimentando-se da troca de energia. Silurian: Age OfSea Scorpionsfoi tocada na seqüência,ele deu indícios de fazer um stagediving e, de fato, foi para a galera, segurado pelas pernas.

Tal qual em Pelagial (13), Bathyalpelagic I: Impassese a pauladaBathyalpelagic II: The Wish In Dreams vieram coladas(preterindo Bathyalpelagic III: Disequilibrated) e como o brasileiro deveria ser estudado, ao invés de gritar “The O-cean! The O-cean”, a massa inovou em nosso idioma: “Oceano! Oceano!”, antes de Miocene | Pliocene, terminada com um sucinto “Obrigado, galera!”. Também de Phanerozoic II: Mesozoic | Cenozoic (20), Oligocene a sucedeu e, num digníssimo gesto humano, o cantor ergueu um cadeirante para ele assistir à performance no palco. Com grande apoio popular, Permian: The GreatDying foi o próximo petardo, porém introduzido ao fundo por um sério discurso a respeitoda crise climática em Bangladesh e os subseqüentesfluxos migratórios– se conhece o autor da fala,compartilhe seu nome conosco.

Na transição para Pleistocene, Robin Staps, no conjunto desde 2000 e único membro fundador ainda no line-up, se dirigiu ao público:“Então, este é o dia quarenta e cinco de uma turnê de quarenta e cinco dias. Hoje é o último show e amanhã vamos para casa. É legal pra caralho ver todos vocês aqui para o nosso primeiro show em São Paulo. Muito obrigado, galera! Esta é dedicada ao Labirinto”. No meio da faixa, o vocalista fez nova incursão aos braços do povo e, além de metade da festa, dava para constatar um padrão evidente: quemescutou os álbuns do grupo, sabia que suas composições vêm num crescendo e explodem num determinado ponto. Pois bem, o efeito apenas se intensificava ao vivo!

Enquanto parte significativa de Cryogenian preparava terreno no som ambiente para a super cadenciadaHolocene, a primeira fileira da grade auxiliavaLoïc Rossetti a descer o mencionado cadeirante, reconduzindo-o ao seu lugar original. Concluída, renovaram-se os berros coletivos de “Oceano! Oceano!”, abafados pelo início deJurassic | Cretaceous, mais longa do set, identificada de imediato eencerrada num sutil “Obrigado, Brasil! Muito obrigado!”do frontman.Ao rumaremtemporariamenteao backstage,a platéiaclamavaem inglês: “One more song! One more song!”.

No retorno, Shamayim ecoava pela casa e Robin Staps disparou: “Estão prontos para ouvir um pouco do material antigo?”. Loïc completou: “Temos mais umas dez músicas para vocês!” e fomos impossibilitados de compreender a continuação da óbviabrincadeira em função dos estrondosos urros de anuência. Definido o tom, Firmament, a seguinte ao atmosférico tema em Heliocentric (10),foi a saideira e, a julgar pela reação geral, provou-se escolha certeira para arrematar os trabalhos em quase uma hora e meia de espetáculo! O vocalista se despediria com a pedrada em andamento e também posteriormente: “Obrigado, Brasil, São Paulo! Vocês foram sensacionais” e “Muito obrigado! Muito obrigado por terem vindo! Foi  maravilhoso! Já, já, estaremos com vocês, São Paulo”, mensagem estranha, a princípio, esomente elucidada minutos depois.

Analisando, das onze do repertório, seis foram extraídas de Phanerozoic II: Mesozoic | Cenozoic (20) e se retrocedermos até o antepenúltimo play, Pelagial (13), a conta chega a dez, ou seja: se alguémpreferia as antigas, complicou… A restante é de Heliocentric (10), de modo que o setlist inteiro contemplou a era Loïc Rossetti já como integrante!E se você esteve por lá e foi embora curioso com as músicas na discotecagem até a banda pessoalmente se deslocarao merchan após aapresentação (o procedimento inusitado atraiu considerável número de compradores sedentos pelos escassos LPs!), se o Shazamestiver correto (às vezes acontece de o aplicativo se enganar!), tratam-se de Stil (AcidArabFeat. CemYildiz) e Wild International (One Day As A Lion).Enfim, será que eles voltam?Em todo caso, o ano não poderia ter sido fechado de melhor maneira!

Setlist

01) Triassic

02) Silurian: Age Of Sea Scorpions

03) Bathyalpelagic I: Impasses

04) Bathyalpelagic II: The Wish In Dreams

05) Miocene | Pliocene

06) Oligocene

07) Permian: The Great Dying

08) Pleistocene

Intro: Cryogenian

09) Holocene

10) Jurassic | Cretaceous

Encore

Intro: Shamayim

11) Firmament

Outro 1: Stil [Acid Arab Feat. CemYildiz]

Outro 2: Wild International [One Day As A Lion]