Texto: Vagner Mastropaulo
Fotos: Flavio Santiago
Letais e necessários, The Varukers passam o rolo-compressor em São Paulo!
Quando se pensa no punk britânico, a associação direta para alguns é a The Clash eThe Sex Pistols, mais populares, mas há quem pense no som visceral de Discharge, GBH, The Damnede The Exploited, os únicos escoceses neste balaio inglês. O ponto é: por que pouco se fala em The Varukers? Na boa? Azar de quem não os conhece! E se o evento marcado para o Sesc Belenzinho às 20:30 foi pontualmente iniciado pelo Asfixia Social, este repórter não se furta em admitir que sequer sabia da existência de uma banda de abertura…
Realizando a cobertura voluntariamente e com ingresso pago do bolso em função da alta demanda por credenciamentos (apenas nosso fotógrafo foi contemplado), fizemos questão de chegar no horário e, ao notar um trompete e um trombone em posse do vocalista Kaneda, ficava evidente que o quinteto, também desconhecidopara grande parte dos ali presentes, faria um som diferente. Bastou uma curta intro sem título e com um pezinho no hip-hop, seguida de Opressor, chegada num ska, para surgir a dúvida: como seria a reação da massa punk raiz no recinto?
Pois bem, oótimo grupo inteirado por Thiko (guitarra e vocal), Leo (baixo), Jahya (saxofone) e Barba (bateria)não só foi respeitado como acolhido ebastante aplaudido! Ajudou o fato de seu curtíssimo set ter durado vinte e dois minutos, não dando tempo de enjoar e sim de querer ouvir mais. Após A Banca e À Prova De Bala, ambas em versões reduzidas devido ao urgir do tempo, vieram TrafficLights, Sistema De Som(A) e Raízes Fortes, até o citado Kaneda dar o recado:
“Firmeza total, vamos mandar o último som aí para vocês, certo? Somos uma banda daqui de São Paulo mesmo e é aquilo: a gente acredita muito que a união entre a cultura punk e a cultura hip-hop e toda nossa musicalidade do gueto representa nossa cultura de rua. O punk é isso: cultura de rua – e a gente acredita nisso de coração. Cada um aqui veio de uma escola, mas a gente é tudo da mesma quebrada e é isso. Hoje, estar aqui em São Paulo recebendo o Varukers, é uma grande satisfação, firmeza? Muito obrigado pela presença de todos e todas aí. Da hora mesmo e vamos que vamos. Vamos mandar o último som para vocês aí e, na seqüência, vamos arrebentar: o Varukers está na casa, caraio!” – só faltou informar se tratar de Electromagnetic.
Papo sério, a combinação agradou,por vezes lembrando Planet Hemp, por outras caminhando para os metais do Anjo Dos Becos, sem deixar de ladoa veia punk. Por fim, foi interessante notar um “asfixia” tatuado do lado esquerdo do pescoço do vocalista e não deu para reparar se havia um “social” do outro lado. Vai ficar para a próxima, torcendo para que seja logo e num show mais comprido.
Às 21:06, Anthony “Rat” Martin (sim, seu rosto lembra o de um rato!) deu as caras enquanto já estavam posicionados o guitarrista Ian “Biff” Smith, o baixista Les Doherty e o baterista Scott Briggs,ex-Chaos UKe substituindo Kevin “Kev” Frost, conforme apurado com o próprio titular das baquetas em rápida troca de e-mails: “Não consegui realizar esta turnê devido a um agendamento prévio de férias”. Na prática, o vocalista já se comunicava ainda nas escadas de acesso: “São Paulo, como vocês estão? Obrigado pelo apoio de vocês ao longo dos anos, meus amigos, certo?”. E mesmo o começo falso de Led To The Slaughter, para os últimos ajustes de Biff, virou piada para o frontman: “Vocês estão empolgados demais!”, até a paulada realmente inaugurar a festa.
Com João Gordo filmando no improvisado “pit”, seria questão de tempo para os fãs mandarem a área isolada para o espaço e sua presença por ali não era surpresa ao juntarmos os pontos: o Ratos De Porão fez duas datas em Londres em 09 e 10/09, com The Varukers abrindo a segunda delas [https://www.facebook.com/photo/?fbid=230514519988061].Agitado, Rat garantia: “Eu morreria por uma causa, mas não pela porra do meu governo!”, aludindo a Die For YourGovernment. E sua raiva se estenderia a dois tipos absolutamente nojentos antes de Murder: “Você tira a vida de alguém, é assassinato. Mas e se você mata estupradores e pedófilos? Isso é justiça!”.
E se os riffs da guitarra eram cortantes e ardidos, o baixo galopante e bateria surrada, a platéia correspondia detonando nas rodas, pulando e voando em stage divings ao som de pancadas consecutivas comoTorturedByTheir Lies, NothingsChanged e MassacredMillions. Mais uma contextualização? “Escrevemos esta há muitos anos. Aí veio o Covid e a re-significou sem nenhum lugar para irmos, certo? Mas graças a Deus que estamos aqui! NowhereToGo”.
Antes de Deadly Games, Biff disse algo e, mais para lá do que para cá e apropriadamente “calibrado”, foi difícil compreendê-lo, sobretudo quando este escriba o olhou bem e seu rosto pareceu uma mistura de Jair Picerni com Kevin Keegan… Atento, o vocalista teve o cuidado de devolver um par de óculos encontrado na pista e entregue por um fã. Curiosamente, neste ponto do setlist de palco constava Will TheyNeverLearn?,riscada e substituídapor Don’tWanna Be A Victim. Do mais recente play, Damned And Defiant (17), veioa faixa-título, chegando ao que somente mais tarde descobriríamos já ser metade do espetáculo.
Numa só tacada, executaram Thanks For Nothing, The Last War, AnotherReligionAnother War e MarchOf The S.A.S., a mais extensa da noite. E se punk é sinônimo de diversão pura, o guitarrista já doara seu setlist a uma fã no gargarejo, perdendo-se quanto à próxima até puxarSoldier Boy ao invés de All Systems Fail. Após a correção de Rat, com um engraçadíssimo“Onde diabos você está?”, fizeram ambas na ordem correta e, concluindo a parte regular do set, vieram com ProtestToSurvive.
Pelo “sulfitão” ali no chão, o retorno para o encore sem nem deixar o palco deveria ter sido com How Do YouSleep, mas eles mandaram EndlessDestructionLine e Genocide. E não custa informar que ainda constavamno papelThe Bomb Blast e No Hope Of A Future, esta, porém, riscada. Encerrado o moedor de carne com vinte e um petardos distribuídos em cinqüenta e um minutos que fizeram a alegria geral, Rat foi dar autógrafos perto do setor de retirada dos pedidos da Comedoria e Biff ficou papeando e tirando fotos com os fãs à borda do palco!
Cinco dias depois, haveria replay dos dois grupos em La IglesiaBorratxeria acompanhados do Ódio Social e não pudemos comparecer em função da passagem de SlashFeat. Myles Kennedy & The Conspirators pelo Espaço Unimed. Que The Varukers retorne logo à cidade para um show um pouquinho mais longo e com ainda mais clássicos!
Setlists
Asfixia Social
Intro: [sem título]
01)Opressor
02)A Banca
03)À Prova De Bala
04)TrafficLights
05)Sistema De Som(A)
06)Raízes Fortes
07)Electromagnetic
The Varukers
01) Led To The Slaughter
02) Die For YourGovernment
03)Murder
04)Fucked It UpAgain
05)TorturedByTheir Lies
06)NothingsChanged
07)MassacredMillions
08)NowhereTo Go
09)Deadly Games
10)Don’tWanna Be A Victim
11)Damned And Defiant
12) No Masters No Slaves
13)Thanks For Nothing
14) The Last War
15)AnotherReligionAnother War
16)MarchOf The S.A.S.
17)All Systems Fail
18)Soldier Boy
19)ProtestToSurvive
Encore
20)EndlessDestructionLine
21)Genocide