ONSTAGE - Official Website - All Rights Reserved 2017-2025
Website by Joao Duarte - J.Duarte Design - www.jduartedesign.com

Tindersticks ::: 16/04/25 ::: Auditório Simon Bolívar / SP
Postado em 25 de abril de 2025 @ 19:21


Texto e Fotos: Flavio Santiago

Foram anos de espera. Desde que conheci os Tindersticks, lá pelos anos 2000, com aquele clima soturno, arranjos cinematográficos e a voz grave e melancólica de Stuart Staples, imaginei como seria vê-los ao vivo. Finalmente, em 2025, eles desembarcaram pela primeira vez no Brasil e escolheram o Auditório Simon Bolivar, em São Paulo, para essa estreia tão aguardada — e posso dizer sem exageros: foi um dos shows mais intensos e elegantes que já presenciei.

A história da banda é marcada por uma consistência artística rara. Formada em Nottingham no início dos anos 90, o Tindersticks sempre navegou entre o chamber pop, o post-rock e o soul sombrio. Com álbuns como Curtains, The Something Rain e No Treasure But Hope, construíram uma discografia sólida, intimista e profundamente emocional. E ao vivo, isso tudo ganha uma camada ainda mais potente.

O show começou pontualmente, e o silêncio respeitoso do auditório só realçava a atmosfera solene que pairava no ar. A abertura com “How He Entered” foi como um convite para adentrarmos o universo particular da banda — lento, delicado, quase onírico. Em seguida, “A Night So Still” trouxe aquele típico clima de tensão e contemplação que os Tindersticks sabem criar como poucos.

“Trees Fall” e “Falling, the Light” deram sequência à imersão, cada uma com suas nuances sutis, enquanto Stuart entregava cada verso como se estivesse contando segredos em nosso ouvido. “Nancy” surgiu como um respiro suave, seguida pela belíssima “Second Chance Man”, que arrancou suspiros da plateia com seu crescendo emocional.

Um dos momentos mais surpreendentes veio com a cover de “Lady With the Braid”, de Dory Previn. Foi um dos pontos altos da noite, onde Staples mostrou todo seu talento interpretativo. “Willow” e “The Bough Bends” mantiveram o clima introspectivo, com arranjos impecáveis e toques de minimalismo que criavam verdadeiras paisagens sonoras.

“Medicine”, “Always a Stranger” e “The Secret of Breathing” vieram em sequência como um bloco coeso, um passeio por diferentes fases da banda, mas sempre com aquele senso de unidade estética. “Turned My Back” e “Don’t Walk, Run” trouxeram um pouco mais de movimento ao set, preparando o terreno para “New World”, uma das faixas mais impactantes da noite, que foi recebida com uma comoção visível na plateia. “Soon to Be April” fechou o set principal como uma despedida suave e poética.

O encore foi a cereja do bolo. “Stars at Noon” trouxe de volta a aura cinematográfica que permeia tantos trabalhos da banda. “Show Me Everything” e “Tiny Tears” — essa última, talvez a mais aguardada da noite — fizeram o público conter o fôlego. “Tiny Tears”, em especial, soou como um abraço melancólico e coletivo. E, por fim, “For the Beauty” encerrou o espetáculo com elegância e uma dose de esperança.

Saí do Auditório Simon Bolivar com o coração cheio. Foi um show silencioso, introspectivo e profundamente emocionante — como se tivéssemos vivido uma confissão coletiva, conduzida pela voz grave de Stuart Staples e pela sensibilidade ímpar de uma banda que, enfim, se apresentou diante de um público brasileiro ávido por essa beleza melancólica há tanto tempo.

SETLIST:

How He Entered
A Night So Still
Trees Fall
Falling, the Light
Nancy
Second Chance Man
Lady With the Braid(Dory Previn cover)
Willow
The Bough Bends
Medicine
Always a Stranger
The Secret of Breathing
Turned My Back
Don’t Walk, Run
New World
Soon to Be April

Encore:
Stars at Noon
Show Me Everything
Tiny Tears
For the Beauty

 
ONSTAGE - Official Website - All Rights Reserved 2017-2025