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TOOL ::: 30/03/2025 ::: LOLLAPALOOZA BRASIL
Postado em 06 de abril de 2025 @ 17:12


Tool abre a caixa de ferramentas e estréia no Brasil para, talvez e infelizmente, nunca mais voltar

Texto : Vagner Mastropaulo

Fotos: Flavio Santiago

Seja sincero: algum dia você supôs ter a chance de assistir ao Tool ao vivo no Brasil? Pintando a oportunidade de vê-los no Lollapalooza, era praticamente obrigatória a aquisição de seu ingresso para conferir sua possível única vinda ao país em todos os tempos… Ou você é realmente otimista e espera que eles um dia regressem?

Quem não quis ir até Interlagos e preferiu a TV, com filmagem similar à disponibilizada do Lolla chileno [https://www.youtube.com/watch?v=xuHbO_e0ru0], não faz idéia do volume e peso encarados no Autódromo… Em conversa entre dois amigos ao lado deste repórter no decorrer do set, um deles afirmava: “Com três guitarristas, oFoo Fighters não tem o peso de uma só ali”.

Os takes, aliás, tiveram uma particularidade: sem closes e, conseqüentemente, zerotomadas dos músicos, só concorrendo para aumentar o clima de magia que paira sobre a banda e, ao mesmo tempo, transformando a experiência em algo sensorial. Afinal de contas, havia: impacto sonoro; visual, incluindo projeção de luzes; e até cinestésico, com a força das batidas vindo em direção ao corpo!

Pela televisão, a situação chegou ao ponto de, visando eximir-se de culpa, o Multishow prestaresclarecimentos durante Jambi, a segunda tocada (e a partir dela, em todas as músicasexceto em Parabola e na saideira): “A pedido da banda Tool, a transmissão deste show está sendo feita somente com imagens abertas”.

E essa aura misteriosa permeando o grupo não é novidade… Para se ter uma noção, em matéria de capa da Metal Hammer 326, de setembro/19, Eleanor Goodman contextualizouo primeiro contato com as faixas de Fear Inoculum (19) num escritório da gravadora, tendo que: assinar um termo de confidencialidade; entregar o celular; e entrar numa sala de reunião com circuito interno de vigilância…

Para piorar, o volume da audiçãofoi ensurdecedor, sem fornecimento do título do play ou da tracklist para somente ter acesso a tais informações três semanas adiante, num segundocontato como material… Os objetivos de tamanho segredo? Conservar o impacto total e evitar vazamentos para resguardar os interesses do próprio conjunto e de seus representantes. Cuidado exageradamente paranóico?Ou preservação de um mítico mistério acerca do Tool?

Ajudando a instigar ainda mais a curiosidade geral em São Paulo, na linha de frente ficavam o guitarrista Adam Jones e o baixista Justin Chancellor, respectivamente à direita e à esquerda do palco. Ao fundo, o vocalista Maynard James Keenandividia espaço com o baterista Danny Carey, abrindo mão do papel tradicional de um frontman e, quem sabe, criando a função de “backman”. Ele interagiria com a platéia apenas três vezes, mas tudo em seu devido tempo…

A ansiedade em finalmente prestigiar o potencial matador do quarteto começou a diminuir com os batimentos cardíacos de Third Eye usados como intro, sem as falas, mas com gritos de “Meu Deus do céu!” misturados com desabafos reveladores: “Não acredito que vivi para ver esses caras!” – tudo isto preparando terreno para Fear Inoculum, com direito a ovaçõesno meio de sua execução, como se fossem comemorações de gols em estádio – por duas vezes!

Visivelmente emocionando, um fã, ao lado deste escriba, questionava: “Como conseguem fazer um som tão redondinho?”. Por outro lado, apesar da absurda aula de precisão, se alguém se perdesse e errasse algo, o trem descarrilaria e daria trabalho consertar… Encerrada, veio a primeira da trinca de falas do “backman”, ignorando o fato de já ter passado pelo próprio Lollapaloozacom o A Perfect Circle em 2013 e também com o Puscifer, na mesma segunda edição do festival, na tarde seguinte, antes da era estabelecida no Autódromo e ainda no Jockey Club:

“Brasil? Não! Brasil?? Mais uma vez, mais uma. Brasil??? Prazer em conhecê-los! Convidada especial, Jéssica. Vamos nessa!” – sim, a ex-guitarrista daCrypta! Se pela TV foi impossível notá-la, saiba que ela simplesmente detonou e representou nos riffs ganchudos da citada Jambi! Concluída, sabe qual foi a segunda comunicação de Keenan? “Jéssica Falchi! Obrigado!”.Sim, assim sucinto…

Para Stinkfist, a estratégia visual ganhou uma novidade: seu clipe nos telões. E Rosetta Stoned foi feita com efeitos de voz num megafone. Rapidamente superando quarenta minutos, a maravilhosa Pneuma foi um espetáculo à parte – e se você ainda não viu Mike Portnoy [https://www.youtube.com/watch?v=b3sEdST3D9E]tirando-a no YouTube, faça uma pausa na leitura e prestigie o canal da Drumeo! É impagável e servirá para você entender melhor a genialidade de Danny Carey!!!

Abrindo quatro consecutivas de Lateralus (01), The Grudge trouxe um mega grito perto de seu final e, na boa, que pancada! Gêmeas siamesas como no full-length e ambas com clipe nos telões, Parabol e a já mencionada Parabola mantiveram a sensação de parecerem uma só, até porque: há como separá-las? Sendo justo, neste momento, indo pouco além de uma hora no relógio, os menos aficionados acusavam o golpe e começavam a debandar à espera de Justin Timberlake – gosto é gosto…

Creditada pelo Multishow ainda como se fosse a anterior, a ótima Schism foi outra a trazer seu vídeo nos telões – ao vivo seu baixo inicial fica ainda mais sensacional! Formalmente a última no setlist de palco, Ænema foi outra com clipe ao fundo e baixo cavalar e Keenan deu o ar da graça pela última vez antes de Flood, saideira, única de Undertow (93) no repertórioe em versão reduzida a 3’30” do total de quase oito em estúdio: “Brasil? Acordem! Brasil?? Mais uma! Brasil???” – com alguma reclamação embutida e ininteligível antes do terceirochamado.

Como outro, em autêntica bem-humorada tiração de sarro, um trecho de Dancing Queen, do ABBA.Em suma, distribuídas na discografia, foram: quatro de Lateralus (01); duas de Ænima (96), 10,000 Days (06) e Fear Inoculum (19); e uma de Undertow (93).

Há no YouTube[https://www.youtube.com/watch?v=W7jsJjBT1IU]um registro integral em 4K do que trouxeram a São Paulo e a boa alma a gravá-lo adverte de antemão: “O vídeo teve muitos defeitos, só amarrei o celular na grade e deixei gravando para poder curtir o show. E que show, meus amigos! O áudio está estourado, pois estava na grade e o grave estava muito forte, mas é o que tenho a oferecer”. Curta enquanto puder até alguém derrubar o link..

Dois pontos interessantes: quem chegou cedo ao Lolla notou a imensa quantidade de gente usando camisetas do Tool, com as mais variadas estampas, não apenas as duas oficiais à venda pela delicada bagatela de duzentos reais! Aí se explica o mar de gente que se estendeupor todoo gramado/pântano lamacento em alguns pontos! E o que dizer da vestimenta [https://www.instagram.com/aenima87/p/C74JW0IAq9C] do homem-polvo Danny Carey? Alguém sabe onde adquiri-la?

Ao encerrar a transmissão do Multishow, para quem via do conforto do lar, Guilherme Guedes não reconheceu Flood, cogitou se tratar de material inédito e apontou que a banda planeja voltar ao estúdio para um novo álbum. A respeito do tema, em entrevista a Steve Appleford na Metal Hammer 386, de maio/24, o vocalista cravou:

“O Tool é um animal mais complicado com muitos egos e muitas outras coisas acontecendo em nossas vidas. Mas toda a criatividade está lá, as músicas e as idéias podem fluir e discussões podem sucedê-las. Assim que superarmos as discussões, podemos conseguir fazê-lo. Acho que podemos fazê-lo de modo mais eficiente. E acho que todos concordamos que temos que passar por isso porque não podemos enrolar por outros quatorze anos”.

E caso o processo de composição adotado para Fear Inoculum se mantenha, a missão tende a ser complexa, pois no mencionado artigo anterior da edição 326, Eleanor Goodman explicou a razão de tantas “discussões”: “A banda optou por uma abordagem democrática que significa que eles todos devem estar felizes com o resultado. Se não estiverem, não podem seguir em frente. Em especial, o guitarrista Adam Jones é conhecido como um perfeccionista confesso que adota o mantra: ‘Não é bom quando é feito, é feito quando é bom’”. Imagine o trampo que vai dar…

Enfim, hipnótico, catártico, belo e brutal, foi o show da noite e o do festival! Para alguns, já é a imbatível apresentação de2025 e, quiçá, o show de uma vida inteira! E se foram trinta e cinco anos de carreira para pisarem por aqui uma mísera vez, será que ainda voltam?

 

Setlist

Oficial: 19:55–21:25 / Real: 19:51–21:25 / 1h34’

Maynard James Keenan (vocal), Adam Jones (guitarra), Justin Chancellor (baixo) e Danny Carey (bateria)

Intro: Third Eye [batimentos cardíacos]

01) Fear Inoculum

02) Jambi [Com Jessica Di Falchi]

03) Stinkfist

04) Rosetta Stoned

05) Pneuma

06) The Grudge

07) Parabol

08) Parabola

09) Schism

10) Ænema

11) Flood

Outro: Dancing Queen [ABBA]

 
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