Texto e Fotos: Flavio Santiago
A despedida épica do Uriah Heep no Tokio Marine Hall, será?
Confesso que fui ao show do Uriah Heep com o coração apertado. A ideia de que esta seria a última vez que veria a lendária banda inglesa ao vivo me acompanhou desde a fila até o apagar das luzes no Tokio Marine Hall. E o que vivi naquela noite foi um verdadeiro rito de passagem — não apenas uma celebração de décadas de rock, mas um adeus digno, intenso e emocional.
Logo que os primeiros acordes de “Grazed by Heaven” ecoaram, senti que a banda não estava ali para apenas cumprir tabela. Bernie Shaw, o vocalista que comanda a banda desde os anos 80, surgiu com um vigor impressionante. Sua voz continua afiada, poderosa, e a presença de palco é carismática e calorosa. Ele falou com o público várias vezes, sempre com um sorriso, como se soubesse o peso daquela noite.
Ao lado dele, Mick Box, o único membro fundador ainda na formação, foi um verdadeiro mestre da guitarra. Com seus longos cabelos brancos, óculos escuros e um sorriso constante, Mick parecia aproveitar cada segundo no palco, solando com paixão, especialmente nos momentos mais psicodélicos e épicos como em “The Magician’s Birthday” e “July Morning”.
Phil Lanzon nos teclados é um espetáculo à parte. Ele trouxe aquela atmosfera mágica e progressiva com seus arranjos envolventes, especialmente em “The Wizard” e “Sweet Lorraine”. Dave Rimmer, no baixo, trouxe uma presença firme e moderna à banda, e Russell Gilbrook, o baterista, é pura potência — seu solo estendido ao final de “Free ‘n’ Easy” arrancou aplausos frenéticos da plateia.
O setlist foi uma verdadeira viagem pela carreira da banda. Após a abertura com “Grazed by Heaven” e a excelente “Save Me Tonight”, veio “Overload”, que manteve a energia lá em cima. Quando tocaram “Shadows of Grief”, um clima mais denso e sombrio tomou conta — um mergulho profundo no lado mais progressivo do Uriah Heep.
A clássica “Stealin’” foi cantada em uníssono, e “Hurricane” mostrou que até nos trabalhos mais recentes a banda ainda sabe soar poderosa. Quando Bernie anunciou “The Wizard”, o salão ficou em silêncio por um segundo antes da explosão de aplausos. Foi um dos momentos mais emocionantes da noite, ao lado da arrepiante “July Morning”, com sua longa introdução e construção épica que prendeu todos no tempo.
O bis foi puro fan service: “Sunrise”, com sua dramaticidade teatral, e o fechamento perfeito com “Easy Livin’”, que deixou todos pulando e cantando como se estivéssemos em 1972.
Saí do Tokio Marine Hall com um misto de gratidão e melancolia. Gratidão por ter presenciado uma banda que ajudou a moldar o hard rock e o prog, e melancolia por saber que talvez essa tenha sido realmente a última vez. Se foi mesmo a despedida, foi da forma mais digna possível: com classe, energia e amor pela música.
Uriah Heep mostrou que, mesmo após mais de 50 anos de estrada, ainda sabe como encantar — e se despedir — como os gigantes que são.
SETLIST
Grazed by Heaven
Save Me Tonight
Overload
Shadows of Grief
Stealin’
Hurricane
The Wizard
Sweet Lorraine
Free ‘n’ Easy (Extended drum solo ending)
The Magician’s Birthday
Gypsy
July Morning
Encore:
Sunrise
Easy Livin’
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