Texto: Simone Barbosa

Fotos: Flavio Santiago

O Cine Joia recebeu o Vapors of Morphine em uma noite que misturou nostalgia e reinventividade. O espaço, conhecido por sua acústica imersiva e atmosfera intimista, foi palco ideal para a banda que carrega o DNA do lendário Morphine, grupo pioneiro do “low rock” dos anos 1990.

Abertura com WRY

A noite começou com a apresentação do WRY, banda de rock alternativo de Sorocaba. Conhecidos por sua energia e presença de palco, eles aqueceram o público com um repertório que mesclou clássicos de sua carreira e músicas do álbum “Reviver”. A performance cativante do WRY preparou o terreno para a atração principal.

O Vapors of Morphine surge como uma continuação espiritual do Morphine, após o trágico falecimento do vocalista e baixista Mark Sandman em 1999. A formação atual inclui Dana Colley (saxofonista original do Morphine), Tom Arey  (bateria) e Jeremy Lyons (baixo e vocal), que assume o desafio de reinterpretar o legado de Sandman sem imitá-lo. A banda equilibra clássicos do Morphine com composições próprias, explorando a mesma estética sombria e jazzística, porém com nuances contemporâneas.

O público, composto por fãs veteranos emocionados e novos ouvintes curiosos, lotou o Cine Jóia . A iluminação criou um clima noir, remetendo aos bares underground onde o Morphine começou. O som, nítido e envolvente, destacou cada camada instrumental — do saxofone barítono hipnótico de Colley ao baixo de duas cordas deslizando em melodia.

O setlist foi uma jornada pelos sucessos do Morphine e por faixas do Vapors of Morphine, destaques para “Cure for Pain” executada com intensidade crua, arrancou aplausos assim que os primeiros acordes do sax ecoaram, “Buena”A batida pulsante de Deupree e o baixo de Lyons capturaram a essência latina e psicodélica da original, “Sharks” & “Honey White”: Clássicos que levaram o público a cantar em uníssono, numa conexão quase ritualística.

Colley, com seu saxofone, foi um espetáculo à parte, alternando entre solos frenéticos e notas prolongadas que ecoavam melancolia. Lyons, embora menos enigmático que Sandman, conquistou com sua voz grave e interações humildes, agradecendo ao público em português. Deupree, na bateria, demonstrou precisão rítmica.

O Vapors of Morphine não é uma simples banda tributo; é uma reinvenção que honra o passado enquanto traça seu próprio caminho. No Cine Joia, eles provaram que o espírito do Morphine ainda vive, adaptado a novas mãos sem perder sua alma obscura e sedutora. Para os fãs, foi uma noite de redenção; para os novatos, uma iniciação a um som atemporal. Uma celebração de que, como dizia Sandman, “the music is the best thing going on today”.